Marighella, o filme, me fez sentir medo

Marighella, o filme, me fez sentir medo

Lembro bem da execução de Carlos Marighella, em São Paulo.

Foi em 1969, e eu já tinha 10 anos.

Lembro da revista – Manchete? – que trazia as fotos da execução do líder da guerrilha urbana e também as primeiras fotografias de Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio londrino.

Lembro do artigo que Caetano publicou no Pasquim sobre Marighella, e quase ninguém entendeu que era sobre ele.

Pode ser encontrado no livro O Mundo Não É Chato (Companhia Das Letras).

Lembro que os comunistas que eram contra a luta armada – meu pai, por exemplo – nutriam, mesmo assim, alguma admiração pelo guerrilheiro.

Marighella, o filme de Wagner Moura, vazou no mundo digital e me trouxe muitas lembranças da ditadura sob a qual os brasileiros viveram de 1964 até 1985.

Vejo gente dizer que, em 2021, com Jair Bolsonaro na presidência, o Brasil está sob uma ditadura. Não, não está, embora a gente saiba que o presidente faz a sua defesa.

A ditadura é sempre pior.

O momento atual é de ter essa consciência e de saber que, sob a vigência de uma Constituição, governos democráticos podem aperfeiçoar o Brasil e fazê-lo avançar em seu processo civilizatório.

É um longo caminho. Os da minha geração, mesmo que envelheçam, não vão ver. Ou verão muito pouco.

Marighella, o filme, cuja estreia nos cinemas brasileiros virou uma verdadeira novela, me fez sentir medo.

Sim. Medo de uma nova ditadura. Algo muito pior do que o que já temos com Bolsonaro no poder.

A meninada dos dias atuais – contra ou a favor da ditadura – não faz ideia do que estou falando. Não tem como fazer.

O filme, bem realizado, tem qualidades e defeitos.

A estrutura narrativa é sedutora, mas o tom apologético do personagem central é excessivo.

É um filme necessário, li em algum lugar.

Mas é também – não custa reconhecer – um filme provocativo para uns malucos que estão por aí loucos para cometer atos de violência.

A cena final do Hino Nacional é muito forte.

O hino é nosso. É o que ela diz.