icon search
icon search
home icon Home > cultura
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

CULTURA

Do Brás à Vila Madalena: indies ampliam fronteiras de Adoniran

Letras do sambista influenciam nova geração de artistas de São Paulo. Kiko Dinucci, Odegrau e Rodrigo Campos fazem crônica musical da cidade.

Publicado em 06/08/2010 às 14:56

Do G1

A São Paulo da década de 50 e seus personagens ficaram marcados na crônica musical de Adoniran Barbosa. Em suas canções, o sambista, que completaria 100 anos nesta sexta-feira (6), passeava pelas imediações da estação de trem do Jaçanã, do viaduto Santa Ifigênia e pelas ruas do Bixiga sempre com um olhar irreverente.

Nos anos 2000 a pauliceia e suas neuroses modernas estão ganhando registros de novos artistas, que citam o humor e a originalidade de Adoniran como grande referências em suas composições. Nelas, sai o Brás caipira do amigo Arnesto e entram em cena o agito da Vila Madalena, a boemia da rua Augusta, as distâncias quebradas pelo metrô e a esperteza dos motoboys no trânsito.

"As músicas do Adoniran são geniais porque constroem tramas na quais os elementos do cenário roubam todo foco da história", diz o sambista Kiko Dinucci, 33 anos. "De repente você começa a visualizar a Avenida São João ou a estação do Jaçanã como protagonistas da música".

Estratégia que Dinucci usa na letra de "Depressão periférica", faixa do álbum "Na boca dos outros" (2009). Na canção, um rapaz que mora num bairro afastado da periferia paulistana é abandonado pela namorada, que o troca por "um da Vila Madalena".

Paulista de Guarulhos, Dinucci revela certos traços autobiográficos na letra. "Na minha adolescência, eu sabia quem eram meus amigos de verdade por aqueles vinham me visitar. Quem mora afastado do Centro, sabe: enfrentar um monte de conduções e os congestionamentos não é fácil".

"Parmera"

Outro que fala da "demora para chegar" em suas músicas é Douglas Germano, 42. Filho de João Germano, puxador de samba da Nenê de Vila Matilde, e "criado na bateria da escola", o cantor chegou a seguir o caminho do pai.

"Compus alguns sambas-enredos, cheguei a concorrer, mas logo vi que não era a minha praia", conta. "Meu primeiro impulso sempre foi fazer letra de samba, mas com uma roupa diferente".

E o modelito que Germando lhe diz cair melhor é o sambão-crônica, como provam algumas das letras compostas pelo músico. "Seu Ferrera e o Parmera", na qual narra o dia de um torcedor palmeirense que pega a linha Leste-Oeste do Metrô para chegar a uma partida no Parque Antártica, é quase um "Adoniran vintage".

"O Seu Ferrera é inspirado em uma amigo meu, que tinha exatamente aquela rotina em dia de jogo do Palestra: a partida era às 15h, mas 10h ele já começava a se arrumar pra ir ao estádio", explica. "O Adoniran observava as pequenas histórias, e isso me seduziu muito. Acho que herdei dele essa preocupação em registrar meu tempo e a minha cidade nas músicas."

Melancolia de Adoniran

Enquanto alguns artistas seguem a verve irreverente do sambista, há quem se encante por sua melancolia. Caso de Peri Pane, compositor e vocalista da banda indie Odegrau, com Rafael Martinez (guitarra), Daniel Xingu (baixo) e João Zilio (bateria).

Pane cita músicas como "Iracema" e "Apaga o fogo, Mané", ambas sobre amores perdidos, como suas preferidas. "Gosto muito do jeito como o Adoniran fala de coisas sérias, trágicas, sem nunca perder o humor. Essa foi sua melhor qualidade."

E tal influência pode ser vista em letras do primeiro disco da banda, "O fantasma da Light", recém-lançado. Em "Emanoelle", Pane faz um trajeto pela Rua Augusta, citando nomes de garotas de programa imaginárias. Já em "O último vagão" ele descreve uma "paixonite instantânea" que tem como cenário a estação Paraíso do Metrô.

"São Paulo não é um cartão-postal, mas é um prato cheio para um compositor. É frenética, sempre em mutação, mas ao mesmo tempo tem alguns pilares, de concreto ou não, que nunca se movem", analisa.

São Mateus não é um lugar assim tão longe

São Mateus está nas letras de Rodrigo Campos, 33, como o Bixiga está nas de Adoniran. As ruas e as figuras do bairro são as estrelas de "São Mateus não é um lugar assim tão longe" (2009), álbum que mistura samba, jazz e arranjos eletrônicos, bastante elogiado pela crítica especializada.

Nas faixas, o cantor e compositor – já gravado por Céu, Fabiana Cozza e Curumin – faz um retrato poético do bairro da zona leste paulistana, em que morou por 20 anos.

"Mudei para a Mooca, que ficava mais perto do Centro e facilitava o acesso ao trabalho. Mas chegou lá, bateu uma saudade da família, do campinho de futebol, dos vizinhos que conheci desde criança, das rodas de samba no fim de semana...
Comecei a compor e foram mais de 30 músicas em um ano", conta Campos.

A violência, problema comum dos bairros de periferia como São Mateus, não ficou de fora. "Perdi amigos de forma trágica e falo sobre isso nas músicas, mas não com revolta. É mais com um sentimento de compaixão", explica. "E o Adoniran tinha um pouco disso. Ele foi um crítico dos problemas da cidade, mas não de forma panfletária. 'Saudosa maloca' está aí para comprovar", aponta o compositor, citando a canção que narra o episódio do despejo de migrantes de uma casa antiga, demolida para a construção de um edifício moderno.

Luísa Maita, 28, cantora-revelação da MPB, também procura levar o caos paulistano para suas canções, mas sem perder a ternura. Caso de "Alento", faixa do disco de estreia "Lero-lero", recém-lançado, que descreve os motoboys da cidade.

"Quem vive em São Paulo acaba virando meio de concreto. É muito barulho, muita falta de tempo... É preciso criar uma força para viver aqui, tudo é muito pulsante", descreve a cantora. "Fico imaginando como o Adoniran levaria essa cidade de hoje para as letras dele", aponta Luísa, moça nascida e criada no Bixiga – o bairro ícone da obra do sambista.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp