Espetáculo de dança sobre psicoses será apresentado amanhã

Alguns anos atrás, o bailarino pernambucano Dielson Pessoa teve um surto psicótico, sendo internado por quatro dias numa clínica e diagnosticado com transtorno bipolar.

Todas essas etapas da experiência psicológica foram colocadas no espetáculo de dança O Silêncio e o Caos, que será apresentado gratuitamente nesta segunda-feira, às 20h, no Teatro do Sesi, em João Pessoa. A montagem encerra a temporada 2015 do projeto Palco Giratório do Sesc na Paraíba (confira as atrações deste domingo no box ao lado).

“É uma espécie de monólogo”, define o artista, que ficou 13 anos no eixo Rio-São Paulo, onde atuou como um dos principais bailarinos da Cia. Deborah Colker. “Vejo o meu processo de colapso mental como uma janela que oferece o estímulo para descobrir a sua causa e o aprofundamento do comportamento humano”, explica o pernambucano.

Na visão de Dielson Pessoa, a patologia não é abordada como algo ruim, mas como uma instigação ao autoconhecimento profundo. “Viver mais uma vez o estado de desorganização mental é um verdadeiro desafio estético para que ela seja muito intensa. Eu queria me desafiar como artista cênico”.

O Silêncio e o Caos abre um leque de discussões e debate sobre as psicoses e os comportamentos, levando o público a refletir e conscientizar sobre os preconceitos e receios advindos da sociedade em si. “Quando fui internado na clínica por quatro dias, percebi o quanto o lugar é preconceituoso pela ignorância”, relembra. “Existe mais uma rejeição. O ser humano mais agride do que ajuda”.

Dirigido pela coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial de Dança, o espetáculo mostra a experiência transformadora da reabilitação psiquiátrica do personagem, que passa por várias fases: desde a psicose, passando pela mania de perseguição e incorporações, até a superação através da redenção.

Para o bailarino pernambucano, dentre os mergulhos das causas e motivos que nos levam aos colapsos mentais na apresentação, o próprio comportamento da sociedade pode provocar os tais transtornos nos indivíduos.

Sobre os desafios estéticos presentes em O Silêncio e o Caos, a iluminação de Jathyles Miranda é tão vital quanto a trilha sonora original assinada por Lucas Ferraz (que também tem intervenções ao vivo). “A luz que trabalha com a linguagem de show e a teatral dá a grandiosidade ao espetáculo”, afirma Pessoa. “A música eletrônica é organizada e repetitiva, mas ao mesmo tempo desorganizada e não-orgânica”.

O corpo na cena
Neste domingo, no período das 9h às 12h e das 13h às 16h, no Sesc Centro de João Pessoa, Dielson Pessoa ministrará uma oficina gratuita intitulada 'O Corpo na Cena'.

O laboratório tem como objetivo qualificar por meio do aprendizado de técnicas de dança contemporânea e teatro físico as potências e virtudes cênicas dos participantes. O público-alvo são atores, bailarinos e pessoas com alguma experiência em dança.

Veja os espetáculos da reta final do projeto
'Das Sombras à Ação'
Hoje, 19h30, no hall do Teatro do Sesi.
Solo da paraibana Clara Jerônimo parte dos contos infantis para abordar a sensação de medo. Falar sobre medo é algo muito complexo, tendo em vista a singularidade do ser humano e a infinidade de fatores psicológicos capazes de desencadeá-lo. É no meio dessa complexidade que o trabalho de pesquisa do grupo Raízes Volantes mescla a psicanálise com a arte, examinando a relação, de um lado, entre o processo de alienação e a entrada do sujeito no simbólico e, do outro, a relação entre o processo de separação e a travessia do fantasma criado das sombras do eu e das exigências pulsionais.

'Bruxa 0.1 (Doce)'
Hoje, 20h, no Teatro do Sesi.
Solo do paraibano Dan Oliveira potencializa o empoderamento do indivíduo e seu fazer na dança. Unindo dança e teatro criatrivo, espetáculo atravessa o âmbito das relações interpessoais, interligando temas como amores, dores, perdas e alegrias.

'O Silêncio e o Caos'
Amanhã, 20h, no Teatro do Sesi
Solo do pernambucano Dielson Pessoa abre um leque de discussões sobre psicoses, levando o público a perceber que essas duras passagens são muito enriquecedoras, principalmente quando vistas por um prisma respeitoso e longe de preconceitos.