CULTURA
"Eu ainda estou vivo"
Considerado um dos principais nomes da arte conceitual, artista japonês On Kawara, morre aos 81 anos em Nova Iorque.
Publicado em 12/07/2014 às 6:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 16:42
“É com grande tristeza que a galeria anuncia a passagem de On Kawara”. Esta é a única frase que se encontra no site oficial da galeria nova-iorquina David Zwirner, em virtude da morte do artista japonês radicado nos Estados Unidos ontem, aos 81 anos.
“Visualmente, seu trabalho é muito enxuto, limpo e econômico, bem diferente do meu”, analisa o paraibano José Rufino.
“Kawara não é um dos meus artistas prediletos, mas de alguma forma me inspirou no que diz respeito à arte conceitual”, complementa.
Considerado um dos principais nomes da arte conceitual, dentre as obras assinadas pelo artista nipo-americano estão telas que trazem apenas a data em que foram pintadas: a série intitulada Today, que começou a ser criada nos anos 1960. Nos seus trabalhos, On Kawara explorou a natureza do tempo e a relação do homem com a morte.
“Quando a série de ‘pinturas de datas’ de On Kawara foi iniciada, em 1966, o termo arte conceitual ainda nem existia, pois surgiu pela primeira vez em 1967, quando o artista Sol Le Witt publicou os seus ‘Parágrafos sobre a Arte Conceitual’”, explica o artista visual paraibano radicado em São Paulo Fabiano Gonper.
José Rufino frisa que Kawara passou a vida inteira dedicado à investigação do tempo. “Today é uma cartografia cronológica da passagem do tempo”, define. “Ele fez isso usando a si próprio como experiência para sua obra”.
O artista paraibano também conta que, quando apresenta Kawara aos seus alunos, muitos se questionam pela simplicidade presente nos seus quadros. “Falo para eles que não é a pincelada, o sentido está além dela, que mostra a medida da angústia da existência. Extrapola a referência pessoal. A existência é comum a todos e atravessa as culturas”, explana Rufino.
Para Gonper, a ideia de tempo na obra de Kawara é o que mais lhe desperta o interesse. “Esse registro poético e utópico sobre os dias, sobre a permanência, sobre a passagem do tempo é algo que perpassa a todos nós, porém refletimos pouco sobre esse processo”.
Nos anos 1970, o artista nipo-americano também ficou conhecido pelos telegramas com a frase “I am still alive” (‘Eu ainda estou vivo’, em tradução livre), que eram enviados aos amigos, artistas, marchands e galeristas para confirmar a sua própria existência.
“É assim que a arte possibilita esse prolongamento de tempo/espaço”, avalia Gonper. “Fica o legado de trabalho de On Kawara para o mundo e a sua inspiração de que talvez o que precisamos seja de mais artistas que estejam ‘vivos’”.
ON KAWARA EM MOSTRA DE SP
Radicado em Nova York desde 1965, a metrópole norte-americana que adotou On Kawara prestará reverência ao artista japonês com uma retrospectiva da sua obra, marcada para fevereiro do próximo ano, no Museu Solomon R. Guggenheim.
Atualmente, uma obra de Kawara se encontra em exposição no Brasil, dentro da mostra batizada de A Inusitada Coleção de Sylvio Perlstein, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Trata-se de 53 Postcards Addressed to Sylvio Perlstein, uma série de postais que o artista enviou ao colecionador belga-brasileiro nos anos 1970.
A exposição com 150 peças da coleção particular de Sylvio Perlstein permanecerá em São Paulo até o dia 10 de agosto.
Além de On Kawara, a mostra inclui trabalhos de nomes como Dalí, Duchamp, Kandinsky, Cartier-Bresson e Warhol.
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