Leandro Gomes de Barros, o reinventor do cordel

Literatura de cordel é tema do Paraíba Comunidade nas TVs Cabo Branco e Paraíba.

(Foto: Reprodução/TV Cabo Branco).

O poeta paraibano Leandro Gomes de Barros é um dos maiores nomes da literatura de cordel brasileiro. Ele nasceu em Pombal no dia 19 de novembro de 1865, data em que é comemorado o dia do cordelista, uma homenagem a ele, que é considerado o reinventor do cordel.

Leandro Gomes nasceu no sítio Melancias e foi para a cidade de Teixeira, no Sertão da Paraíba, com um tio que era padre, com quem aprendeu sobre o mundo das letras e teve acesso aos clássicos da literatura e conhecimento geral.

Algumas de suas obras são ‘O príncipe e a fada’, ‘Martírios de Genoveva’, ‘A história da donzela Teodora’ e ‘Branca de Neve e o soldado guerreiro’.

Leandro Gomes de Barros, o reinventor do cordel
(Foto: Reprodução/TV Cabo Branco)

A professora de literatura Ione Severo afirma que o poeta foi o criador do cordel no Brasil. “O cordel não nasceu registrado, ele nasceu do ouvir, do falar”, explica Ione Severo ao dizer que ele recontava nos versos do cordel as histórias que ouvia.

O poeta não escrevia cordel como se vê hoje, mas folhetos e romances de feira. De acordo com Ione Severo, Leandro foi criador de um dos maiores sistemas editoriais do Brasil. O poeta começou a escrever, imprimir e vender em sua própria casa, ele inclusive vivia somente com renda da venda dos folhetos de cordel.

Para vender os cordéis, o poeta Leandro Gomes de Barros costumava ir até as feiras, onde abria a mala com os textos e lia um dos folhetos para o público. No momento do clímax da história, Leandro parava a leitura e oferecia os textos para que as pessoas comprassem e só então descobrissem o final, relata o historiador Itamar Sales.

Nomes como Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rêgo e Guimarães Rosa fizeram uso de folhetos de Leandro e outros poetas para fundamentar grandes obras conhecidas pelo público. “Ariano Suassuna trouxe Leandro para o Auto da Compadecida com maestria”, afirma a professora de literatura Ione Severo ao explicar que o caso do gato que defecava dinheiro é inspirado no cordel de Leandro chamado de ‘O cavalo que defecava dinheiro’.

‘O cavalo que defecava dinheiro’ – cordel de Leandro Gomes de Barros

Aí chamou o compadre
E saiu muito vexado,
Para o lugar onde tinha
O cavalo defecado
O duque ainda encontrou
Três moedas de cruzado.

Então exclamou o velho:
Só pude achar essas três!
Disse o pobre: Ontem à tarde
Ele botou dezesseis!
Ele já tem defecado,
Dez mil réis mais de uma vez”

(trecho de ‘O cavalo que defecava dinheiro’ de Leandro Gomes de Barros)

Leandro Gomes de Barros, o reinventor do cordel
Ione faz a leitura do texto que inspirou Ariano suassuna. (Foto: Reprodução/TV Cabo Branco).

O gênero literário criado por Leandro Gomes de Barros foi sendo abraçado por centenas de autores ao longo das décadas, o cordel se tornou num jeito popular de se comunicar e as publicações se multiplicaram. Hoje, o maior acervo de cordel do mundo está na Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, localizada na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande.

Outro espaço em Campina Grande que também abriga cordéis e permite fazer uma viagem pela história do gênero literário é o Museu de Arte Popular da Paraíba.

Mas o cordel não ficou restrito ao Nordeste, o gênero literário ultrapassou as fronteiras do Brasil e chegou à Califórnia. Atualmente, a Universidade da Califórnia contém mais de 5 mil exemplares de cordel.

Em 1922 na Semana de Arte Moderna, Olavo bilac foi escolhido como rei da poesia, então Carlos Drummond de Andrade diz que não foi feito justiça a Leandro Gomes de Barros.

Segundo o historiador Itamar Sales, Leandro é o maior expoente da literatura paraibana e nordestina, que iniciou um estilo literário único no mundo inteiro, cantando a história do seu povo e da sua cultura.

Leandro é da velha cepa,
De Inácio da Catingueira
De Romano da Mãe D’Água
Dos poetas do Teixeira,
De cangaceiro e polícia
Dos quais se deu a notícia
Pelos folhetos de feira.”, trecho de ‘Leandro Gomes, o rei do cordel’ de Manoel Monteiro.

A série ‘Histórias da Gente’ foi ao ar no Bom dia Paraíba e apresentou o trabalho de quatro pessoas ligadas à arte que ganharam importância na Paraíba e até fora do Brasil. O episódio sobre o poeta Leandro Gomes de Barros está disponível no Globoplay.