CULTURA
João do povo
Aos 73 anos, vítima de uma embolia pulmonar, morre no Rio de Janeiro o escritor João Ubaldo Ribeiro.
Publicado em 19/07/2014 às 6:00 | Atualizado em 06/02/2024 às 17:04
"Quem não morre fica velho", dizia João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) à época de seu aniversário de 70 anos e relançamento de Viva o Povo Brasileiro (1984), romance que completa três décadas agora que o seu autor parou de envelhecer.
Aos 73 anos, vítima de uma embolia pulmonar, morre no Rio de Janeiro um escritor que tentou, com a sua prosa, fazer o que Mário de Andrade (1893-1945) fez com a sua poesia: captar o caráter de uma nação sem caráter, feito de Joões como ele e de Getúlios como o personagem que imortalizou em outro romance célebre (veja o box).
O corpo de Ubaldo Ribeiro será enterrado hoje, às 10h, no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, em Botafogo (na Zona Sul do Rio). Ele era membro da ABL desde 2003, e foi o sétimo ocupante da cadeira nº 34.
"É uma grande perda (...) para o romance e o jornalismo nacionais. João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência", declarou em comunicado oficial o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti. Além de uma obra de 10 romances (alguns adaptados para o cinema e para a televisão), volumes de contos, crônicas e textos para jornal, Ubaldo deixa quatro filhos, entre eles o apresentador de televisão Bento Ribeiro. O escritor foi casado duas vezes, a primeira com a historiadora Mônica Maria Roters.
Nascido em Itaparica (na região metropolitana de Salvador, na Bahia), no dia 23 de janeiro de 1941, Ubaldo passou a infância em Aracaju (no Sergipe) e formou-se leitor com Monteiro Lobato (1882-1948), cuja obra completa leu até os dez anos de idade. Formado em Direito na Universidade Federal da Bahia (o pai era advogado e fundou o curso de Direito na Universidade Católica de Salvador), chegou a morar nos EUA, onde fez mestrado em Administração Pública e Ciência Política. Morou também em Portugal e na Alemanha.
A estreia na literatura se deu com Setembro não Tem Sentido (1968). Ganhou dois prêmios Jabuti (em 1972 e em 1984) e o Camões (em 2008). A crítica o relacionava a Graciliano Ramos (1892-1953) e a Guimarães Rosa (1908-1967), a quem ele era um dos pouquíssimos refratários: "Meu santo não casa com o dele", chegou a dizer quando participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2011.
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