CULTURA
Livro resgata os esquecidos
Publicado em 04/11/2012 às 8:00
O Fole Roncou! Uma História do Forró começa situando Luiz Gonzaga em Campina Grande. Passeia tanto pela história do Rei do Baião, quanto da Rainha da Borborema. “Tentamos mostrar por que Campina Grande se consolidou, a partir de uma condição geográfica – ponte entre o Litoral e o Sertão –, com as devidas implicações econômicas e sociais, como uma capital cultural nordestina, autêntico ímã para talentos que nasceram ali perto, como Abdias, Marinês, Antonio Barros e o próprio Jackson do Pandeiro. Sem contar os genuinamente campinenses, como Genival e Zé Calixto”, comenta Carlos Marcelo.
“Campina foi a Liverpool nordestina – e isso não somos nós que afirmamos, mas os cronistas da época” – segue o autor. – “Contar a história de Campina Grande era importante para contextualizar a trajetória daqueles personagens. Fizemos o mesmo, em menor proporção, com Caruaru, São Paulo, Rio e o Seridó do potiguar Elino Julião".
INJUSTIÇAS
O livro resgata nomes que a história do forró esqueceu, ou pouco valoriza. É o caso do cantor Ary Lobo – cantor na linha de Jackson do Pandeiro que poucos conhecem hoje –, da própria Marinês que, como pontua Rosualdo, “carece de um reconhecimento nacional”, e Antônio Barros, compositor de uma série de grandes hits, mas nacionalmente pouco reconhecido.
“Mas acho que a injustiça maior é ao próprio forró, comumente relegado ao rótulo de música regional quando, na verdade, é uma manifestação nacional. Que outro gênero musical produzido fora do eixo Rio-São Paulo conseguiu ser absorvido de norte a sul do país com tanta força? Até hoje, dança-se forró de Porto Alegre a Manaus, e nem falo do 'forró de plástico', falo do pé de serra mesmo”, comenta o paraibano de Coremas.
Carlos Marcelo lembra que Antônio Barros escreveu mais de 800 músicas, “e é inigualável na arte de fazer refrões ganchudos – e pouco reconhecido fora do Nordeste”. “Idem João Silva, que foi o compositor que teve o maior número de músicas gravadas por Luiz Gonzaga, mais do que os justamente celebrados Humberto Teixeira e Zé Dantas”, acrescenta o autor.
“Outros sequer são conhecidos em sua própria região, como Geraldo Correia, que, apesar de ser considerado um dos maiores tocadores de oito baixos de todos os tempos, mora até hoje em condições modestas em Campina Grande. E a trajetória de Elino Julião, de cantor de forró a intérprete romântico, também não é muito conhecida fora do Rio Grande do Norte”, completa.
nascido no forró
A dupla diz que Marcos Farias foi de uma ajuda fundamental para o livro, não só para compor a biografia dos pais – Abdias (1933-1991) e Marinês (1935-2007) – mas por ter convivido de perto com Luiz Gonzaga (de quem é afilhado), Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda, entre outros. “Ele conhece as histórias desses gigantes não por ouvir falar, mas por ser testemunha ocular dos fatos”, acrescenta Carlos.
“Ele conviveu desde pequeno nesse universo do forró, fosse acompanhando a mãe em turnês ou observando o pai trabalhando no estúdio, como produtor”, completa Rosualdo, que emenda: “Ele não só contou com riqueza de detalhes a história do pai e da mãe, como indicou muitos nomes que poderiam nos ajudar, cedeu fotos, gravações de programas de rádio (alguns transcritos no livro)”.
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