CULTURA
Milton revisita clássicos em DVD
Cantor Milton Nascimento lança CD e DVD 'Uma Travessia: 50 Anos de Carreira Ao Vivo' pela Universal Music.
Publicado em 31/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:55
Quando Milton Nascimento passou por João Pessoa, no começo deste ano, trouxe na bagagem a turnê ‘Uma Travessia’. O show, apresentado nas areias de Tambaú na noite de 19 de janeiro, dentro da programação do projeto Extremo Cultural, está registrado em Uma Travessia: 50 Anos de Carreira Ao Vivo, que acaba de sair em CD e DVD pela Universal Music.
Quem foi ao Busto de Tamandaré naquela noite sentiu um gostinho do show comemorativo, tanto pelo cinquentenário artístico do músico carioca, quanto pelos seus 70 anos, celebrados no dia 26 de outubro do ano passado. Na conta que Milton faz também entram os 45 anos do hino ‘Travessia’ (parceria dele com Fernando Brant) e os 40 do seminal disco Clube da Esquina (1962).
A apresentação, gravada em 25 de novembro de 2012 no Vivo Rio (RJ) com produção da MP,B em parceria com o Canal Brasil e patrocinada pelo Natura Musical, sob a direção de Regis Faria, tem cerca de duas horas.
São 23 números, tanto no CD – que é duplo – quanto no DVD, em repertório que resume muito bem a carreira e a importância de Milton Nascimento, com arranjos completamente renovados.
O projeto tomou dois anos de pesquisa antes de decolar para uma turnê que rodou mais de cem cidades entre o Brasil, América Latina e Europa.
"Escolher o repertório deste show foi um dos maiores desafios que eu já enfrentei. Pra isso eu contei com a ajuda do Regis, diretor do show, que pegou todos os discos que lancei e fez uma pesquisa minuciosa", revela Milton.
Há apenas dois convidados no show, mas são dois convidados indissociáveis da carreira de Milton Nascimento: Wagner Tiso, com quem divide os créditos da primeira canção gravada por ele, ‘Barulho de Trem’, em 1962, e Lô Borges, que assina com Milton o antológico Clube da Esquina, lançado dez anos depois.
O show surpreende. Na primeira hora, Milton mostra o poder de fogo de sua banda - Wilson Lopes (guitarra), Lincoln Cheib (bateria), Kiko Continentino (piano), Widor Santiago (sax) e Gastão Villeroy (baixo) - alinhando clássicos pouco lembrados, com espaço para improvisação jazzística.
Nesse primeiro tempo há gols como ‘Vera Cruz’, com a companhia de Tiso ao piano (ele volta em ‘Coração de estudante’), ‘Promessas do sol’ (da obra-prima Geraes, de 1976) e ‘Lília’ (de Clube da Esquina), música instrumental dedicada à mãe de criação de Milton (já que a biológica morreu quando ele tinha apenas dois anos). “Essa música não tem letra, porque nenhuma letra chega aos pés do que ele era” anuncia no palco.
Aliás, o músico carioca mais mineiro do Brasil gosta de conversar. É uma delícia ouvi-lo contar sobre como um livro de jazz deu origem a ‘Canção do sal’, seu primeiro grande sucesso.
Declamando a letra da música antes de começar a cantá-la, o número também mostra a disposição de Milton para improvisar em cima de seu repertório. Mais na frente, ele transforma ‘Para Lennon e McCartney’ em um rap, aqui, na companhia vocal de Borges.
Lô Borges ainda divide com ele o microfone de ‘Nuvem cigana’ e ‘Nada será como antes’. Em determinado momento, Milton sai dos holofotes para deixar o velho sócio do Clube da Esquina cantar, sozinho, ‘O trem azul’ e ‘Um girassol da cor do seu cabelo’ em sequência que rememora o clássico álbum gravado pelos dois.
Solo, Milton não foge dos seus próprio hits. ‘Maria, maria’ e ‘Nos bailes da vida’ estão lá e na trinca final, os fãs cairão de joelhos: ‘Canção da América’ - cantada por um público afinado - ‘Coração de estudante’ e a grande homenageada da noite, ‘Travessia’, encerram um registro memorável.
Tudo está preservado tanto do CD, quanto no DVD. O CD, aliás, tem acabamento mais caprichado, com encarte generoso repleto de fotos e letras de música. O DVD é simples, com duas trilhas de áudio (5.1 e 2.0) e sem extras.
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