CULTURA
O começo de tudo
Há exatos 50 anos chegavam às lojas do Reino Unido o álbum 'Please, Please Me', marcando para sempre a história dos Beatles e da música.
Publicado em 22/03/2013 às 6:00
Os Beatles não passavam de quatro rapazes de Liverpool quando, naquele 11 de fevereiro de 1963, entraram nos estúdios da gravadora EMI, na Abbey Road, para gravar seu primeiro álbum. chegaria às lojas do Reino Unido 39 dias depois, no dia 22 de março, há exatos 50 anos.
Please Please Me é um marco histórico não só na carreira dos Beatles (afinal, foi a pedra fundamental da Beatlemania), mas da música pop como um todo. O disco, orquestrado pelo maestro, produtor, arranjador e executivo George Martin, traria novidades de ordem estética, musical e comercial.
“George tinha um grande conhecimento musical, enquanto o nosso era muito primitivo”, confessava certa vez John Lennon. “Nenhuma gravadora estava interessada na gente, exceto George”, completou Ringo Starr.
Martin, gerente do selo Pharlaphone, braço da EMI que lançaria boa parte dos LPs dos Beatles, já vinha trabalhando com John, Ringo, Paul MacCartney e George Harrison em estudio desde 1962, quando gravou com eles os singles ‘Love me do/P.S. I love you’ (lançado em outubro daquele ano) e ‘Please please me/Ask me why’ (que sairia em janeiro de 1963, um mês antes da banda entrar em estúdio).
Os álbuns, tal qual conhecemos hoje, não eram muito comuns na época - o mercado era aquecido com os lançamentos de pequenos singles. Inicialmente, George Martin queria gravar um disco ao vivo que captasse a energia da banda no palco, mas acabou se convencendo a gravar um LP no estúdio, com a banda tocando ao vivo.
A gravação teve início às dez da manhã e correu até as onze da noite, dividida em três sessões. No pequeno, mas fundamental livro Gravações Comentadas e Discografia Completa (Larousse), o pesquisador Jeff Russell conta que antes de definir o repertório, Martin pediu aos Beatles que fizessem uma passagem de som com suas músicas prediletas. O Fab Four tocou covers e músicas próprias, repertório de onde ele escolheu nove canções. A décima, o produtor sugeriu: ‘Twist and shout’. Gravada originalmente pelos Isley Brothers, era o ponto alto do show dos Beatles.
“Quando o single ‘Please Please Me’ começou a subir nas paradas, George Martin resolveu apressar a gravação de dez faixas que completariam um primeiro LP. A ideia foi a de que gravassem, em estúdio, o repertório que estava na ponta da língua, nas incessáveis apresentações da banda país adentro desde 1960”, ensina o pesquisador carioca Marcelo Fróes, um beatlemaníaco apaixonado e dono do selo Discobertas, que chegou a lançar alguns projetos envolvendo o legado do grupo inglês.
O LP saiu com 14 faixas, sete em cada lado do disco, como costumavam ser os 12 polegadas lançados no Reino Unido naquela época. De olho no sucesso do single mais recente, a EMI determinou que o álbum se chamasse Please Please Me e traria em seu repertório os quatro singles já lançados.
“O disco começa com Paul McCartney contando ‘one-two-three-four...’, um rock viscoso. Lá pelo meio, ele emplaca umas baladas, uns covers, e termina com outro rock vigoroso que é ‘Twist and shout’. Então você começa a imaginar porque o George Martin deixou aqueles 1, 2, 3, 4 ali... o disco foi planejado como se fosse um concerto de rock. Isso, para mim, marcou o quanto os Beatles, e em particular o George Martin, estavam à frente daquele período”, comenta o jornalista paulista Sérgio Martins, crítico de música da revista Veja.
Please Please Me saiu com oito faixas assinadas por Lennon e McCartney (então grafado McCartney-Lennon) e seis covers. Chegou, disparado, às paradas de sucesso na Inglaterra. Há guitarras altas, gaitas, palmas, “uuuus”, vocais doces e berrados e muitos gritos (reza a lenda que Lennon passou as 11 horas de gravação chupando pastilha para garganta).
“O lançamento de Please Please Me mudou a cena musical britânica”, escreveu Jeff Russell. “Antes dele, a parada de sucesso do Reino Unido era composta por trilhas sonoras de filmes, musicais de Londres e da Broadway e, com excessão de Elvis Presley e outros dois ou três artistas americanos, não havia muito mais que isso”.
No ano passado, quando a revista norte-americana Rolling Stone elegeu os 500 melhores discos de todos os tempos, Please Please Me alcançou a honrosa 39º posição.
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