CULTURA
Ronaldo: a poesia como cabo eleitoral
Ronaldo não era visto como um "poeta de gabinete". Como na política, o escritor "foi carregado nos braços pelo povo".
Publicado em 08/07/2012 às 8:00
A perda de Ronaldo Cunha Lima é, para o presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), Gonzaga Rodrigues, a perda de um poeta que, na literatura, tanto quanto na política, foi “carregado nos braços pelo povo”.
O acadêmico ocupava a cadeira número 14 da APL (cujo patrono é o imortal Eliseu Elias Cézar) e fazia da poesia, nas palavras de Gonzaga Rodrigues, seu principal cabo eleitoral.
“Ronaldo levou o veio popular para a poesia clássica. Ele não era daqueles poetas de gabinete, mas daqueles que iam até o povo, e buscavam no povo o seu ritmo, a sua temática”, ressalta.
Na poesia, Ronaldo era aclamado também pelo seu domínio da métrica do soneto, eleito pelo poeta como sua forma predileta.
“Minha praia é o soneto”, confessou Ronaldo Cunha Lima, em sua última entrevista à reportagem. “Já disseram que o soneto é a carteira de identidade do poeta. Se é assim, eu tirei a minha muito cedo, embora até hoje ache uma via muito difícil”, completava o sonetista celebrado criticamente por figuras de vulto como Ascendino Leite (1915-2010) e Luiz Augusto Crispim (1945-2008).
Autor de uma farta bibliografia, Ronaldo Cunha Lima atingiu a excelência poética nos 14 versos desdobrados em dois quartetos e dois tercetos: “A poesia dele fluía com um molde que já parecia internalizado”, indica Chico Viana, escritor e professor de literatura. “Quem o lia sempre esperava um final engenhoso, comovente”, conclui Chico, fazendo alusão à famosa chave-de-ouro, o final retumbante que consagrou sonetistas como Shakespeare e Petrarca, mestres fundadores de formas clássicas do soneto.
Pela concomitância de sua atividade política e literária, Ronaldo também era comparado a José Américo de Almeida, um dos pilares da literatura regionalista.
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