Brasil da democracia não pode admitir que Crivella censure livros

Brasil da democracia não pode admitir que Crivella censure livros

O livro Fahrenheit 451 foi lançado em 1953.

É uma distopia, como dizemos tanto hoje em dia.

Ray Bradbury, o autor, nos apresenta a um mundo, no futuro, em que os livros são proibidos.

Em 1966, Fahrenheit 451 foi levado ao cinema por François Truffaut.

Em Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, os livros não estão proibidos, mas, ao doá-los para a biblioteca da escola pública, o prefeito manda fazer a entrega numa caçamba que despeja os exemplares aos montes no meio da rua.

No Brasil de 2019, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, manda que fiscais recolham, na Bienal do Livro, uma história em quadrinhos que, em uma das suas páginas, contém um beijo homoafetivo.

Num primeiro momento, a Justiça impediu a ação dos fiscais. Num segundo, autorizou a apreensão. Num terceiro, o Supremo fez valer a Constituição e garantiu a venda de publicações com conteúdo LGBT.

O episódio é muito grave e inaceitável, disse o ministro Celso de Mello, decano do STF.

O fiscais da prefeitura do Rio – digo eu – pareciam com os bombeiros que queimavam livros em Fahrenheit 451.

A parcela da sociedade brasileira que não está tomada pelo ódio e pela irracionalidade disseminados pela extrema direita deve estar atenta.

Este não é um fato isolado. Outros virão.

A grande imprensa – vejam a capa da Folha e os 15 minutos no Fantástico – tem um papel importantíssimo a desempenhar. Ela é imprescindível à democracia.

O STF também, a despeito dos insanos que querem vê-lo fechado.

O que aconteceu na Bienal do Livro do Rio de Janeiro nos deixa algumas lições.

O Brasil da democracia não pode admitir que gente como Marcelo Crivella tenha o poder de rasgar a Constituição e censurar livros.