Fagner chega aos 70 frustrado por ter votado em Bolsonaro

A primeira lembrança que tenho de Fagner?

Será do disquinho de bolso do Pasquim?

De um lado, ele cantando Mucuripe (melodia sua, letra de Belchior). Do outro, Caetano, que voltara há pouco do exílio,  fazendo A Volta da Asa Branca.

Ou será da mesma Mucuripe na voz de Elis, no LP que começa com 20 Anos Blue?

Não sei. Ambos os registros são de 1972.

Depois veio o disco de estreia, Manera Frufru, Manera, que é de 1973.

E também o dueto com Chico em Joana Francesa.

Para mim, o melhor Fagner continua sendo aquele dos anos 1970.

O Manera, na Philips.

O Ave Noturna, na Continental.

E os primeiros álbuns na CBS.

Na nova gravadora, o início foi com Raimundo Fagner. Tem aquela versão incrível de Sinal Fechado, com vozes ásperas e superpostas.

Orós, que veio em seguida, foi feito em parceria com Hermeto Pascoal e, de certo modo, contraria a busca do sucesso.

Eu Canto fez de Fagner um artista de grande sucesso. Tem Revelação e Jura Secreta e As Rosas Não falam.

Beleza, com o êxito comercial de Noturno, fecha os anos 1970.

O uso indevido dos versos de Cecília Meireles ficou como mácula, mas os discos eram (ainda são) muito bons.

Fagner, mais como intérprete do que como autor, é um artista com uma notável marca de originalidade, mas acho que, a partir da década de 1980, ele, aos poucos, foi comprometendo sua discografia com trabalhos muito inferiores ao talento revelado nos primeiros discos.

Bem, há os dois álbuns com Luiz Gonzaga, gravados no fim da carreira do Rei do Baião.

E, recentemente, há o belo encontro com Zé Ramalho num registro ao vivo. Duas vozes, dois violões e muitos sucessos.

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No ano passado, Fagner votou em Jair Bolsonaro para presidente.

Dizia crer numa mudança.

Há poucos dias, li que está frustrado com o amadorismo do governo que ajudou a eleger.

Li também que está desencantado com o mercado de música popular no Brasil.

Raimundo Fagner fez 70 anos neste domingo (13).