PARABÉNS, FLAMENGO! MAS 87 É DO SPORT!

PARABÉNS, FLAMENGO! MAS 87 É DO SPORT!

Neste sábado (27), tratando de futebol, a coluna traz um assunto polêmico em texto assinado pelo jornalista Costa Filho.

Ele levou o debate para a academia, num mestrado em jornalismo, e o resultado está num livro.

PARABÉNS, FLAMENGO! MAS 87 É DO SPORT! 

Costa Filho

Ao fim de cada Brasileirão, torcedores aguardam a lista dos campeões. Momento prazeroso de ver o clube do coração no topo do futebol. Também vem à tona a discussão sobre quem é o campeão de 87. Nesta quinta-feira (25), após mais uma conquista do Flamengo, não foi diferente.

Para os donos da verdade do mundo virtual, uma oportunidade de propagar suas listagens particulares. No rádio e na TV, especialistas debatem o tema emitindo as mais variadas opiniões – algumas até absurdas.

O assunto é delicado. A própria CBF, ao apresentar a relação oficial, acalma a maior torcida do Brasil. Num drible de corpo, a mentora máxima do futebol nacional afirma, em seu site, que o Sport Club do Recife é o campeão, mas destaca que o clube carioca detém a Copa União, como se esta tivesse sido um torneio à parte. Não é verdade.

O Brasileirão 87 foi composto por 32 clubes, divididos em dois módulos. O Módulo Verde (Copa União, nome fantasia) abrigava os “grandes times”.  Sport e Guarani compunham o Módulo Amarelo. Note que a participação do clube campineiro, vice-campeão de 86, comprova o seu status de primeira divisão.

Ao longo dos anos, alguns mitos tornaram-se quase verdades absolutas. Em 2018, publiquei o livro-reportagem Sport x Grande imprensa: desde 1987, resultado de mestrado em jornalismo profissional pela UFPB. São mais de 50 entrevistas com personagens da época, como dirigentes, historiadores, juristas e, claro, jornalistas.

Também pesquisei arquivos de jornais da época (Jornal do Brasil, O Globo, Folha e Estado de S. Paulo). Observei, por exemplo, que a CBF jamais abriu mão da organização do certame. Verifiquei ainda que o quadrangular final foi aprovado bem antes do início da competição. Constatei, enfim, que houve forte influência da grande mídia no processo deliberado de eternização da polêmica.

No entanto, essas afirmações perdem força diante da massificação de estórias criadas pelos conglomerados de comunicação, particularmente a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão do certame desde 1987. Nesse cenário, desrespeita-se até mesmo decisão do STJ – transitada em julgado em 1994 e referendada pela Suprema Corte em 2018. Ressalte-se que, em 2019, mais precisamente no dia 24 de setembro, o próprio Flamengo desistiu judicialmente do pedido (humilhante para a grandeza do clube) de divisão do título.

Aproveitemos essa onda de combate às fake news para, definitivamente, mandar para escanteio esses mitos sobre o Brasileirão 87.

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Costa Filho é jornalista e autor do livro-reportagem Sport x Grande imprensa: desde 1987, Editora Mídia (2018), 386 pág.