O Brasil não é de Bolsonaro. Os não bolsonaristas precisam retomar os símbolos nacionais

O Brasil não é de Bolsonaro. Os não bolsonaristas precisam retomar os símbolos nacionais

Meu pai era um comunista não sectário.

Foi ele que me ensinou sobre Tiradentes, Pedro I, Pedro II (por quem tinha admiração especial) e a Princesa Isabel, cujo papel na história da libertação dos escravos achava subdimensionado.

Lá na frente, foi ele que me falou sobre Getúlio. O da Revolução de 1930, o do Estado Novo e aquele que voltou ao poder nos braços do povo. Era varguista, como, mais tarde, foi janguista. Assim como Darcy Ribeiro e Glauber Rocha eram.

Na minha infância, já sob a ditadura de 64, íamos para a esquina da Vasco da Gama, logo cedo no 7 de setembro, ver a banda do 15RI passar. Meu pai gostava dos dobrados. Adorava os americanos de John Philip Sousa. Aprendi a gostar com ele.

Mas não vou negar que houve um momento em que a ditadura levou para ela alguns símbolos nacionais. E, aí, um outro comunista, muito mais sectário do que meu pai, me deu uma grande lição.

Já na segunda metade dos anos 1970 (1977, talvez), o compositor Sérgio Ricardo e o poeta Thiago de Mello percorreram o país com um show chamado Faz Escuro, Mas Eu Canto.

Sérgio cantava, acompanhando-se ao violão. Thiago declamava. Era muito lindo de ver.

No meio do programa, Sérgio Ricardo, que a Covid levou em 2020, cantava o Hino à Bandeira, que considero o mais belo dos nossos hinos patrióticos. Parecia que o músico nos dizia o seguinte: “A ditadura vai passar, e o Hino à Bandeira vai permanecer em nossos corações”.

Assim como o Hino Nacional e a Bandeira Brasileira e, se quiserem, a camisa da Seleção.

Essa história toda nos remete ao Brasil de Bolsonaro. O hino é dele, a bandeira é dele, o Exército é dele, a camisa da Seleção é dele, o verde e o amarelo são dele. Até o 7 de setembro agora é dele.

Que tolos! Tudo isso é nosso também, dos não bolsonaristas como eu.

A esquerda, a oposição a Bolsonaro, deviam levar para suas manifestações a bandeira verde e amarela, deviam cantar o hino nacional. E deviam dizer: “Bolsonaro vai passar, e o Brasil seguirá nos seus caminhos”.

Nesse 7 de setembro de 2021, que nos foi usurpado por Bolsonaro e sua turma, vou ficar em casa. Vou ligar a Globo News e ver as imagens da Avenida Paulista. E vou lembrar do meu avô paterno, Onaldo (na foto, com minha avó Isaura), que nasceu num 7 de setembro, lutou em 32 pelas forças getulistas, levou um tiro na nuca e foi reformado com apenas 24 anos.

Na minha infância, o 7 de setembro era o feriado da Independência e era o dia do aniversário do meu avô Onaldo. A festa era em dobro.