Aos 50 anos, Imagine não é tão bom quanto John Lennon/Plastic Ono Band

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Aos 50 anos, Imagine não é tão bom quanto John Lennon/Plastic Ono Band

Nesta quinta-feira (09), o álbum Imagine, de John Lennon, fez 50 anos. Curiosamente, a indústria fonográfica comemorou em 2018, lançando uma grande edição do disco. CD, vinil, DVD, Blu-ray, nova mixagem. Tudo a que o fã tem direito. 

Imagine é um grande disco, nunca duvidei. Teve a sempre cuidadosa produção de Phil Spector, um maluco que, anos mais tarde, matou uma mulher, foi condenado pelo crime e, no ano passado, morreu de Covid na prisão. Foi gravado na casa de Lennon, em Ascot, Inglaterra, e teve instrumentos acrescentados depois em Nova York.

O problema de Imagine, para mim, é que ele, em 1971, ainda nos pegou sob o impacto gigantesco de John Lennon/Plastic Ono Band, o disco absolutamente imprescindível que, em 1970, Lennon lançou em seguida à separação dos Beatles. Aquele que, na canção God, traz o verso “o sonho acabou”.

Imagine, num certo sentido, é o inverso de John Lennon/Plastic Ono Band. Este é cru, sem adornos, enquanto aquele é mais aveludado. OK, mas não vamos, meio século depois, desmerecer o segundo disco de John depois dos Beatles. Estou somente fazendo uma comparação que sempre me pareceu pertinente e inevitável.

O tempo transformou a canção Imagine num hino à paz e à compreensão entre os homens. Que bom que seja ouvida assim. No fundo, entretanto, é uma balada de cunho anarquista e profundamente contrária às religiões, características que inviabilizariam seu significado como hino pacifista para o mundo abraçar.

Sempre gostei mais de Gimme Some Truth. Imagine abria o lado A, Gimme Some Truth, o lado 2. É um grito desesperado de Lennon contra os políticos, contra tudo o que não cabia na sua vida. “Me dê um pouco de verdade, apenas um pouco de verdade” – ainda é bem atual. E tinha o solo incrível da guitarra de George Harrison.

How Do You Sleep era uma crítica a Paul McCartney. Excessivamente ácida, desnecessária, daquelas coisas que a gente faz e depois se arrepende. Também tinha o beatle George com sua guitarra. Paul, parceiro e amigo, não merecia aquilo. Mas John Lennon era assim mesmo, a despeito do imenso talento que tinha.