75 anos de Belchior: cearense deixou belas canções, mas sua criatividade se esgotou muito rapidamente

75 anos de Belchior: cearense deixou belas canções, mas sua criatividade se esgotou muito rapidamente

Se estivesse vivo, Belchior (Foto/Divulgação) faria 75 anos nesta terça-feira (26). O compositor cearense morreu em 30 de abril de 2017. Tinha 70 anos.

Soube da existência dele no início da década de 1970 quando ouvi Mucuripe, composta em parceria com Fagner. Havia a versão de Fagner, no disquinho de bolso do Pasquim, e a de Elis Regina. Tinha um verso encantador: Calça nova de riscado/Paletó de linho branco/Que até o mês passado/Lá no campo ainda era flor. Depois veio A Palo Seco, no disco de Fagner: Se você me perguntar por onde andei/No tempo em que você sonhava.

Um pouco mais tarde, o grande impacto: Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, abrindo Falso Brilhante, o disco de Elis: Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos/Ainda somos os mesmos/E vivemos como nossos pais. Ou: O que há algum tempo era jovem, novo/Hoje é antigo/E precisamos todos rejuvenescer

Quando o LP Alucinação deu dimensão nacional a Belchior, já tínhamos sentido o impacto do seu talento. Estávamos diante de mais uma voz que falava por sua geração na noite brasileira.

Não tinha grandes dotes como cantor e era melódica e harmonicamente muito limitado. O negócio dele eram as letras. Escreveu algumas absolutamente antológicas. O seu lugar na história da MPB está essencialmente associado à força da sua poesia. Parece paradoxal, mas a marca de originalidade das suas letras está na habilidade com que lidou com referências e citações. Belchior sempre demonstrou ter plena consciência disso.

O melhor do seu cancioneiro se resume a quatro discos, gravados entre 1976 e 1979. Um na Philips, três na Warner. Neles, estão as suas canções mais importantes. As que de fato ficaram arquivadas na memória afetiva do seu público. Durante quase 25 anos, a partir do início dos anos 1980, Belchior muito pouco se renovou, mas fez bem a manutenção da carreira, cantando grandes sucessos para uma plateia fiel.

Na primeira década do século XXI, saiu de cena. Abandonou a carreira, afastou-se da família e dos amigos, sumiu dos palcos e dos estúdios. Uma história misteriosa, estranha e triste. A sua morte foi o epílogo dessa história.