Quem viu com atenção o documentário Woodstock, há de lembrar dele. Um jovem (25 anos incompletos) de cabelos cacheados numa moto apresentado como idealizador e realizador do festival que logo reuniria meio milhão de pessoas numa fazenda no Estado de Nova York. Seu nome: Michael Lang.
Michael Lang morreu neste sábado (08) num hospital em Nova York. O produtor musical que entrou para a história com aquele festival de 1969 tinha um linfoma. Estava com 77 anos. Nunca largou a música.
Lang trabalhou com muita gente importante, mas seu maior feito foi o Festival de Woodstock. Poderia ter sido o único. Woodstock é um marco da contracultura e da cultura hippie, também extraordinário difusor da música de jovens artistas americanos e ingleses de uma geração.
52 anos se passaram desde a realização do evento, e o Festival de Woodstock ainda é um produto rentável para a indústria da música com seus discos, filmes e livros.
Quer conhecer Woodstock? Quer saber como foi o festival? Assista ao documentário de Michael Wadleigh. Comento a seguir:
Woodstock é cinema documental de excelente qualidade.
O diretor, Michael Wadleigh, não entrou para a história por construir uma filmografia exemplar. É homem de um filme só. Mas este filme se chama Woodstock, o longo (a montagem hoje disponível tem quatro horas, uma a mais do que a exibida nos cinemas, três a menos do que desejava o realizador) registro do festival de três dias realizado nos arredores de Nova York em agosto de 1969.
Para muitos, vê-lo pela primeira vez pode não passar de uma extensa maratona. Para nós, revê-lo, agora restaurado e no conforto dos nossos cinemas caseiros, permanece uma extraordinária experiência de imagem e som. E a confirmação da sua permanência.
Woodstock não tem narrador em off, como tantos documentários. Alterna falas, locuções de palco e números musicais. Pode parecer cronológico, mas não é. Em sua narrativa, entendemos que, da tarde de uma sexta-feira à manhã de uma segunda, o festival começa, acontece e termina. A despeito desta certeza, os fatos gerados pela multidão, pelos artistas e pela natureza (o temporal que se abateu sobre o evento) estão misturados. Tudo é fragmentado.
A montagem é uma aula permanente de cinema, mesmo que mais de 50 anos (o filme é de 1970) nos separem da estreia. Marco e influência no gênero, o documentário tem no uso da tela múltipla um grande trunfo. É o que lhe dá ritmo como espetáculo fílmico. É também o que permite uma tradução mágica da música que o festival ofereceu aos seus espectadores e legou ao futuro.
No início dos anos 1970, apesar da falta de distanciamento, já se tinha a percepção de que o filme de Michael Wadleigh era um documento para a posteridade. Ele não se restringia à euforia que o festival gerou e às suas repercussões comerciais a partir do próprio êxito do filme e do conjunto de cinco discos lançados pela indústria fonográfica. Não. Estava claro que havia ali, naquelas imagens captadas em 16 e ampliadas para o esplendor dos 70 milímetros, um enfoque sociológico que deveria, sim, atravessar os anos.
Com seus defeitos e suas virtudes, a geração representada pelas 500 mil pessoas que testemunharam Woodstock (o festival) tem em Woodstock (o filme) o seu melhor e mais fiel retrato. Também o que lhe é mais justo e o que mais lhe expõe. Seja no seu sonho de transformar o mundo, seja na impossibilidade de vê-lo realizado.
Mais uma brilhante matéria, das tantas outras que venho acompanhando e que pontuam com inteligência os nossos momentos históricos mais importantes, obrigado Silvio!
Mais uma brilhante matéria das tantas outras que venho acompanhando e que pontuam com inteligência os nossos momentos históricos mais importantes, obrigado Silvio!
Excelente artigo meu caro Sílvio Osias. Vou assistir ao filme. Conhecer detalhes dessa aventura histórica. Em 69 eu estava com 8 anos de idade.
Tenho o disco duplo original