O Brasil está no limite entre o que é Democracia e o que deixa de ser

O Brasil está no limite entre o que é Democracia e o que deixa de ser

Neste domingo, 24 de abril, Macron derrotou Le Pen e foi reeleito presidente da França. Já derrotara em 2017 e agora fica para mais um mandato de cinco anos. Um candidato de centro vence uma candidata de extrema-direita. A França da República e da Democracia falou mais alto.

A eleição da França deveria servir de exemplo para o Brasil. Aqui, na eleição de outubro próximo, é o inverso. Precisaremos defenestrar do poder um político de extrema-direita e devolver ao país um ambiente de verdadeira Democracia, que vem sendo desconstruído desde a posse do presidente Jair Bolsonaro.

Nesta segunda-feira, 25 de abril, faz 38 anos que a Emenda Dante de Oliveira foi derrotada pelo Congresso Nacional numa Brasília sitiada pelas tropas do general Newton Cruz. O general morreu dias atrás com quase 100 anos e foi enaltecido pela família Bolsonaro. Claro. O presidente e seus filhos gostam da ditadura e parecem sonhar o tempo todo com um golpe de estado.

Vejam vocês. Há quase quatro décadas, o Brasil foi às ruas pedindo a volta das eleições diretas para presidente da República, algo que a ditadura militar nos surrupiou. Pois bem, quase quatro décadas se foram, e cá estamos nós torcendo para que não haja retrocesso na eleição de outubro próximo. Além disso: que as forças que bem ou mal representam a Democracia vençam.

Nesta segunda-feira, que nos traz a lembrança das lutas pela democratização, uma notícia pode resumir o que estamos testemunhando neste 25 de abril de 2022: a reação de repúdio das Forças Armadas, em nota oficial, à fala do ministro Luís Roberto Barroso. Segundo ele, as Forças Armadas são orientadas a atacar e desacreditar o processo eleitoral.

Não vê quem não quer: o Brasil está no limite que separa o que é Democracia do que não é.

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Reproduzo agora um texto de anos atrás sobre a campanha das Diretás Já:

Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão

Chico Buarque

O Brasil está no limite entre o que é Democracia e o que deixa de ser

Era início de 1984.

Em João Pessoa, na Praça do Povo do Espaço Cultural, o público assistia ao show do Trio Elétrico Dodô & Osmar.

Da beira do palco, alguém jogou um bilhete para Osmar, o patriarca da família Macedo.

Ele abriu o bilhete e, entre uma música e outra, leu em voz alta o que estava escrito:

Osmar! Pede diretas já para presidente! 

Nem precisou. A leitura do bilhete já era um pedido.

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A campanha pela volta das eleições diretas para presidente começou em 1983.

Mas só conquistou dimensão nacional em 25 de janeiro de 1984, dia do aniversário de São Paulo, quando um comício reuniu 300 mil pessoas na Praça da Sé.

Dali a três meses, a Câmara votaria a Emenda Dante de Oliveira, que devolveria ao povo o direito de escolher pela via direta o presidente da República.

A última eleição, de Jânio Quadros, havia sido realizada em 1960.

A ruptura foi em 31 de março de 1964, quando um golpe militar depôs o presidente João Goulart, o vice que assumira na renúncia de Jânio.

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Diretas Já. Eu quero votar para presidente!

Era assim que estava escrito naquelas camisas amarelas que usávamos com orgulho cidadão e alguma esperança.

Foram três meses de intensas atividades.

Um pedaço expressivo da sociedade civil abraçou a causa.

A Folha de S. Paulo botou na capa:

Vista amarelo pelas diretas já!

Mas a emenda do deputado peemedebista Dante de Oliveira não foi aprovada.

Faltaram 22 votos naquela noite/madrugada com Brasília sitiada pelas tropas do general Newton Cruz.

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Perdemos, mas ganhamos.

A campanha das diretas abriu caminho para a volta dos civis à presidência, no ano seguinte, com a eleição (ainda indireta) da chapa Tancredo Neves/José Sarney. Seguiram-se a promulgação da Constituição de 1988 e a retomada das eleições diretas para presidente em 1989.

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Foi bonita a festa – faço meu o verso de Chico sobre a lusitana Revolução dos Cravos.

Quem foi às ruas com aquela camisa amarela sabe do que estou falando.