Sou cara de pau, sem caráter ou comunista? Assinei a carta em defesa da democracia

Dizem que a carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa da democracia está tirando o sono do presidente Jair Bolsonaro. Ele pode até achar que o documento é uma cartinha, mas não é, não. E Bolsonaro sabe disso. De artistas a banqueiros, de empresários a ex-ministros do STF, de professores a jornalistas – a adesão a essa manifestação da sociedade civil tem sido muito expressiva em qualidade e quantidade.

O presidente, bem ao seu estilo, xingou as pessoas que assinaram a carta que, no dia 11 de agosto, será lida da sacada da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, em São Paulo. Bolsonaro disse que os signatários são “cara de pau” ou “sem caráter”. Também podem ser banqueiros descontentes com o pix ou artistas que foram desmamados pela Lei Rouanet. Ou, ainda, comunistas.

Sou signatário da carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa da democracia desde que a USP abriu o documento para adesões. Estou, portanto, enquadrado em alguma das ofensas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro aos que não estão com ele nessa cruzada de demolição do Estado brasileiro.

Por certo, não sou banqueiro descontente com o pix. Nem artista desmamado pela Lei Rouanet. Devo ser, então, “cara de pau” ou “sem caráter”. Ou – quem sabe? – as duas coisas ao mesmo tempo. Comunista, meu pai era. Tinha o meu respeito, mas nunca fui.

E o presidente Jair Bolsonaro? O que ele é? Banqueiro, claro que não é. Muito menos artista. Comunista, Ave Maria!, nem pensar. “Cara de pau”? “Sem caráter”? Não vou classificá-lo. Mas sei de muitas classificações – as piores possíveis – das quais ele se faz merecedor. Prefiro, no entanto, que fique insone, cada vez mais sozinho no desespero de quem pode perder a eleição e sofre desde já com medo da prisão.