Nos anos 1970, de grandes discos, Caetano foi alvo do patrulhamento ideológico

Caetano Veloso, que faz 80 anos neste domingo, sete de agosto, gravou dois discos enquanto esteve exilado na Inglaterra. O primeiro (que tem London, London e Maria Bethânia) é melancólico e saudoso. O segundo (Transa) é um dos pontos altos da sua discografia, com You Don’t Know Me, Nine Out of Ten, Triste Bahia, It’s a Long Way.

Na volta ao Brasil, dividiu o palco com Chico Buarque, um encontro que a plateia dos festivais consideraria improvável. O sucesso do LP (Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo) com o registro do show permitiu a ousadia do seu passo seguinte: um disco radicalmente experimental, o Araçá Azul, campeão de devolução nas lojas. Seguiram-se Qualquer Coisa e Joia, álbuns separados que pareciam formar um duplo.

Na segunda metade da década de 1970, seria alvo fácil das chamadas patrulhas ideológicas. Por sua postura crítica em relação ao sectarismo da esquerda e pelas canções que vamos ouvir nos discos Bicho e Muito. Mas são deste período canções como Odara, Gente, Um Índio, Tigresa, O Leãozinho, Terra e Sampa, que resistiram ao tempo e figuram entre as mais marcantes do seu repertório. Cinema Transcendental fecha a década de 1970 com outra série memorável de canções (Lua de São Jorge, Oração ao Tempo, Beleza Pura, Menino do Rio, Trilhos Urbanos, Cajuína). De 1978 a 1983, tem ao seu lado os rapazes de A Outra Banda da Terra.

No início da década de 1980, na letra de Nu Com a Minha Música, mencionava os operários do ABC que prometiam mudar o sindicalismo e a política brasileira. Quando a redemocratização se aproximava, defendia a volta de Miguel Arraes ao poder. E, enquanto seu contemporâneo Chico Buarque cantava Vai Passar, ele falava dos Podres Poderes. “E quem vai equacionar as pressões do PT, da UDR e fazer dessa vergonha uma nação?” – perguntava no Brasil dos tempos de Sarney. Não demoraria a defender a tese de que o país se afirmaria internacionalmente por suas diferenças.

Musicalmente, o Caetano dos anos 1980 flertou com a vanguarda que surgia em São Paulo (Outras Palavras), passou pelos teclados de Lincoln Olivetti (Uns), se aproximou do novo rock brasileiro (Velô) e da música eletrônica que encontrou em Nova York (Estrangeiro).

Nos anos 1970, de grandes discos, Caetano foi alvo do patrulhamento ideológico

(A foto é dos 50 anos de Caetano. No Recife, Germana Bronzeado registrou o momento em que Chico Pereira e eu conversávamos com ele sobre o Tropicalismo no backstage do show Circuladô.)

Em 1992, Caetano Veloso comemorou os 50 anos com a turnê do disco Circuladô.  Já não precisava provar mais nada. Era um dos grandes artistas da sua geração, mas permanecia marcado pela inquietação que o acompanhava desde cedo. No lugar de se dedicar à manutenção da carreira, continuava buscando o novo, a provocação, a ousadia. Sabia que alguma coisa estava fora da nova ordem mundial.

Mais Caetano no próximo post.