Um grande dia para a democracia. E um dia de grandes emoções

Nesta quinta-feira (11), o dia começou com a manchetona da Folha de S. Paulo: Sociedade civil se une por democracia – assim, simples, direta, objetiva. Curta e grossa, como o momento pede. No alto da capa, as fotos oficiais dos candidatos distribuídas pelo TSE, como serão vistas nas urnas eletrônicas no dia dois de outubro. Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet. A Folha tomou partido. Fez bem. Ainda bem. Tomou partido pela democracia enquanto um dos candidatos – o presidente Jair Bolsonaro – desqualifica o processo eleitoral e acena para o golpismo.

Quinta-feira, 11 de agosto de 2022. Um dia histórico para as lutas democráticas da sociedade civil brasileira. O dia da leitura, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Foto/Reprodução Twitter), das duas cartas em defesa da democracia. A que partiu da própria USP e a que foi capitaneada pela Fiesp, unindo capital e trabalho. Um dia para pensar nas ameaças do presente, que são tantas, e também olhar para o futuro do Brasil. E para nós, que já não somos mais jovens e que passamos pela ditadura militar, um dia de muitas lembranças.

Lembrei que fui um garoto que cresceu num regime de exceção. E lembrei dos sonhos de muita gente com quem convivi. Alguns interrompidos pela violência do Estado brasileiro. Mas lembrei dos homens e mulheres que lutaram contra a ditadura. Políticos, bispos, artistas, professores, jornalistas. Os que aqui estavam e os que daqui foram mandados embora. E lembrei ainda de muitos episódios: das passeatas de 1968 à campanha pela anistia. Sobretudo, do inesquecível movimento, em 1984, pelo restabelecimento das eleições diretas para presidente.

No anfiteatro da Faculdade de Direito, antes da leitura da carta da Fiesp, os discursos mostravam que o que era divergência se fez convergência em nome de um objetivo maior e de todos: a preservação da democracia. O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, estava emocionado e nos emocionou com a voz embargada. Quem leu a primeira carta foi o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. Grande brasileiro, advogado que defendeu presos políticos e atuou na Comissão de Justiça e Paz ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns.

A segunda carta foi lida nas arcadas da Faculdade de Direito, no território livre e sagrado do Largo de São Francisco. No mesmo local da leitura da carta de 1977, do professor Goffredo Telles Júnior, que defendia o fim da ditadura militar – a carta de ontem a inspirar a carta de hoje. Quatro pessoas – três mulheres e um homem – leram o documento atual. Antes, num discurso emocionado, a representante dos estudantes mencionou as quebradas e as favelas dos pretos e pretas como ela, esperança para um Brasil que, no futuro, seja menos desigual.

A noite da quinta-feira trouxe um Jornal Nacional claramente favorável ao ato realizado em São Paulo. A Globo também tomou partido pela democracia. Tive certeza quando um amigo que lutou contra a ditadura me disse que chorou vendo o JN. O 11 de agosto de 2022 foi um grande dia para a democracia brasileira. Foi também um dia que nos reservou fortes emoções e nos trouxe crença. Mais ainda havia uma notícia que estava guardada para o final da noite: a carta da Universidade de São Paulo atingiu e logo ultrapassou a marca de 1 milhão de signatários.