CULTURA
Verônica Sabino mostra dupla cidadania na ponte aérea musical Rio-Minas
Sem saudosismos, mas com um pé no passado, em ‘Esse Meu Olhar’, cantora mistura a Garota de Ipanema com a Garota Nacional .
Publicado em 29/12/2015 às 12:00
“Eu me sinto a própria Garota de Ipanema”, garante a carioca da gema Verônica Sabino. “Mas tenho também esse ‘perfume’ de Minas (Gerais), vindo do meu pai”, aponta a cantora e compositora, fazendo referência ao seu genitor, o escritor Fernando Sabino (1923-2004).
Essa “dupla cidadania” reflete o resultado do CD e DVD Esse Meu Olhar (Som Livre/Canal Brasil/MP,B Discos), “um momento de encontro e reencontro”, onde Verônica afirma pisar onde se formou musicalmente.
A mistura dos dois Estados está presente no pot-pourri repaginado da carioca ‘Garota de Ipanema’ (Vinicius de Moraes e Tom Jobim) e da mineira ‘Garota nacional’ (Samuel Rosa e Chico Amaral), hit do Skank. “Não é saudosismo. Eu me sinto presente na minha geração. Não quero voltar para o passado, mas acho que ele está sempre presente”, justifica. “As músicas não ficam datadas. Eu me sinto contemporânea nesse repertório”.
O projeto foi gravado há um bom tempo, em 2013, no Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG), com direção de Darcy Burger. Assina a direção musical o velho amigo da cantora, Sérgio Chiavazzoli.
“A gente sabia que tinha um projeto atemporal com o DVD, não houve uma preocupação em correr com o lançamento. Preferimos fazer com calma, rever todos os detalhes, para ficar exatamente como a gente queria”, explica.
Completam o time de Esse Meu Olhar o veterano ‘papa’ da bossa nova Roberto Menescal fazendo a curadoria do repertório (além de participar nas faixas ‘O barquinho’, ‘Chega de saudade’, ‘Samba de verão’ e o pot-pourri ‘Este seu olhar’ / Só em teus braços) e Stella Miranda na direção artística.
“Foi uma experiência muito reveladora trabalhar com eles. É como se eu estivesse fazendo uma pós-graduação, uma NBA”, compara Verônica Sabino. “Tudo isso é uma construção interna minha. Trabalhar com o Menescal foi um reencontro, porque ele praticamente produziu meu primeiro disco e sempre foi um parceiro musical”.
Grande parte da base do trabalho de Verônica Sabino é calcada na década de 1960. A artista conta que a intenção de Esse Meu Olhar não é recriar o momento da bossa nova, mas ter “um gostinho daquele olhar”, segundo ela.
Há também uma pitada internacional com ‘Besame mucho’ (bolero de Consuelo Velázquez, sucesso dos anos 1940) e ‘Kiss me quick’ (Doc Pomus e Mort Shuman) – com citações jovemguardistas de ‘Eu te darei o céu’ e ‘Splish splash’, “Roberto Carlos e a jovem guarda me norteiam até hoje. ‘Besame...’ é o momento mais antropofágico que tem”.
Cluba da esquina
Cantora Verônica Sabino mostra dupla cidadania sem saudosismos, mas com um pé no passado, em ‘Esse Meu Olhar’.
Outros clássicos da bossa como ‘Adeus América’ (Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques), ‘Influência do jazz’ (Carlos Lyra), ‘Por causa de você’ (Jobim e Dolores Duran) e ‘Insensatez’ (Vinicius e Jobim), ficam ao lado de clássicos do mineiro Clube da Esquina, a exemplo de ‘Nada será como antes’, composta nos anos 1970 por Ronaldo Bastos e Milton Nascimento, onde este último também oferece o ar da sua graça numa participação especial no CD e DVD. “Pra mim, é Bituca (apelido de Milton) que representa Minas Gerais”.
Os extras presentes no DVD mostram um bis de ‘Chega de saudade’, além do making of da produção. “O movimento não para e nada chega ao lugar", filosofa a artista mineira carioca. “O olhar é sempre para o futuro”.
Comentários