CULTURA
VII Filiporto - As Mil e Uma Noites em Olinda
VII Festa Literária Internacional de Pernambuco se encerra amanhã. O escritor paquistanês Tariq Ali esteve entre os palestrantes do evento.
Publicado em 15/11/2011 às 6:30
A Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto) se encerra hoje pondo panos quentes em um debate político que teve início sexta-feira passada, nas duas dezenas de tendas armadas na Praça do Carmo, em Olinda (PE).
Realizada pelo segundo ano consecutivo em uma cidade que nem de longe lembrava os seus melhores carnavais, a 7ª edição do evento teve como tema 'Uma viagem ao Oriente' e abriu espaço em sua programação para autores internacionais e nacionais, incluindo escritores paraibanos.
Em vez dos saiotes e sombrinhas, desfilaram pelas ladeiras de Olinda os véus e túnicas de escritores que ganharam visibilidade no mercado literário à medida que viram seu povo consumido pela guerra.
Exemplo disso é Tariq Ali, intelectual paquistanês convidado do Congresso Literário do evento na noite de anteontem, dia em que a discussão em torno da situação do Oriente Médio se mostrou mais acalourada e privilegiada pelo público.
Em palestra intermediada pelo jornalista Silio Boccanera, Ali afirmou que Obama "traiu as ilusões de seus eleitores", comparou as visitas de Hillary Clinton ao Oriente à de uma "sogra que chega à casa do filho" e lançou petardos contra a elite política de sua própria região.
"Os políticos brasileiros deviam fazer um estágio com os políticos do Oriente Médio para aprender como fazer render bilhões, e não milhões, da corrupção", disparou Ali.
Diferente do que aconteceu na edição de 2006 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o escritor e jornalista foi aplaudido quando criticou Israel e considerou os palestinos como "vítimas indiretas do Holocausto".
O pronunciamento de Ali foi o ponto culminante de uma programação que homenageou a figura de Gilberto Freyre (1900-1987), sociólogo pernambucano que também voltou suas reflexões para os países ao lado do sol nascente.
DIA DE FLIPORTO, BEBÊ
Aberta pelo guru indiano Derek Chopra (que atraiu a Olinda uma caravana de discípulos comandada pelo diretor de novelas Wolf Maya e a atriz Christiane Torloni), a 7ª Fliporto começou dosando a matiz do orientalismo com bate-papos sobre ficção e poesia.
No sábado, Frei Betto fez sua intervenção, conduzida por Bia Correa do Lago (jornalista, filha de Rubem Fonseca), correr fluentemente, sem ceder aos apelos melífluos da plateia, que parecia querer jogar no colo do dominicano a responsabilidade pelos crimes perpetrados por sua ordem religiosa, na Inquisição.
O autor de Minas de Ouro (2011) falou sobre sua contribuição na proximidade da igreja católica cubana com o regime de Fidel, comparou a prisão à sua experiência como frade ("a única diferença entre um frei e um preso é que o frei tem a chave da porta"), mas centrou-se, basicamente, no mote de sua palestra: 'O processo da criação literária'.
Tanto quanto o Nobel de Literatura Derek Walcott, que leu passagens de sua obra Omeros (1990) e também elevou os ânimos quando disse escrever em inglês, mas "como um evangelizado que usa o evangelho que aprendeu para maldizê-lo".
A última fagulha para que o debate desbancasse de vez para o tom político foi dada no domingo, pelo venezuelano Fernando Báez. Dividindo a mesa com o premiado escritor português Gonçalo Tavares, a última frase de Baéz ao microfone foi: "Os Estados Unidos perderam e continuarão perdendo no Oriente Médio".
Outro momento tenso se deu no encontro que marcou a volta do escritor Raimundo Carrero aos círculos literários.
Recuperando-se de um derrame, Carrero teve o microfone 'roubado' por Nelson Motta e Ryoki Inoue, e deixou o palco aplaudido de pé, enquanto Inoue era chamado de 'misógino' pela plateia feminina, revoltada com suas declarações sobre 'musas adolescentes'.
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