Logística será impasse para entrega de milho

Déficit de veículos, rodovias de má qualidade e custos altos pelo transporte rodoviário pode atrapalhar ntrega de 35,5 mil toneladas de milho.

Vão faltar caminhoneiros para levar as 35,5 mil toneladas de milho prometidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para as cidades afetadas pela seca na Paraíba. Segundo o presidente do Sindicato de Transportadoras de Cargas do Estado da Paraíba (Setce-PB), Arlan Rodrigues, se o produto precisar ser encaminhado por via terrestre vai ter que enfrentar um déficit nacional de 130 mil veículos sem motoristas, rodovias de má qualidade e custos altos pelo transporte.

O caos logístico da Paraíba é o mesmo vivido por toda a região Nordeste e, de acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa-PB), Mário Borba, já prejudicou a chegada de milho neste ano para o Estado. Das 73 mil toneladas do alimento que deveriam ter chegado até o final de março, os paraibanos só puseram os dedos em 32 mil toneladas, ou seja, menos da metade delas.

“O Brasil cresceu muito, mas as estradas e ferrovias são terríveis e as hidrovias não são aproveitadas. Nos Estados Unidos, 60% da produção segue por hidrovias, mas isto não existe aqui, praticamente. A falta de logística encarece muito os produtos e, para os caminhoneiros, não é financeiramente interessante fazer fretes para cá”, afirmou.

E é por isso que Arlan Rodrigues reiterou que, hoje, é mais fácil exportar milho para a China do que enviar para o Nordeste. “O ‘custo Brasil’ é muito caro. O empresário de transporte tem que fazer milagre”, pontuou.

Enquanto os empresários cuidam dos seus negócios e o Brasil se transforma no maior exportador de milho do mundo – num movimento esperado pelo mercado, já que investir aqui não é atraente – o Nordeste vê parte de seu rebanho ser aniquilado por falta de comida, numa das piores secas dos últimos 50 anos da região.

DUAS FRENTES
Mas o volume de milho prometido dessa vez (as 35,5 mil toneladas mencionadas acima), segundo o superintendente da Conab na Paraíba, Gustavo Guimarães, deve ser entregue por duas frentes.

“19,5 mil toneladas são de responsabilidade da Conab, que está providenciando os fretes para fazer a entrega dentro do prazo previsto [até maio deste ano] por via terrestre e as demais 16 mil toneladas foram doadas pela Conab para o governo estadual que deverá trazê-las para o Estado através do Porto de Cabedelo”, explicou.

Estas últimas toneladas, conforme lembrou o presidente do Setce-PB, Arlan, mesmo vindo de navio, precisarão de frete para seguirem do porto até o seu destino final. “E o porto não tem infraestrutura para receber essa carga, o governo do Estado precisará contratar pessoas para isto”, opinou o presidente da Faepa/PB, Mário Borba.

Quando chegar à Paraíba, o destino da carga, de acordo com o superintendente, deve ser prioritariamente para algumas das 15 cidades que estão cadastradas na Companhia (Sousa, Pombal, Cajazeiras, Catolé do Rocha, Patos, Itaporanga, Princesa Isabel, Taperoá, Monteiro, Cabaceiras, Picuí, Montadas, Campina Grande, Guarabira e João Pessoa). E, depois de chegarem lá, ficarão disponíveis para a venda.

“Por mais que seja uma operação complexa, porque envolve vários tipos de transportes, a carga de milho deve chegar ao seu destino até maio. Estamos trabalhando para isto com a criação do Comitê Gestor do Programa do Milho”, finalizou o superintendente Guimarães.

No primeiro leilão realizado pela Conab no Nordeste este ano – para estimular a chegada do milho ao seu destino -, o governo federal comprou 50 mil toneladas de milho por R$ 43 a saca de 60 quilos. Em Campinas (SP), uma das referências, o preço da mesma saca é R$ 25, ou seja, de antemão a diferença foi de 72%, entre os custos de uma região e a outra.