Medo do zika aquece segmentos do varejo que vendem itens de proteção

Produtos em lojas infantis e farmácias, como repelentes e mosqueteiros, registram expansão em João Pessoa.

A crise econômica recessiva provocou um forte tombo nas vendas do varejo, mas o medo da contaminação pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da chikungunya e, principalmente, da zika criou e aqueceu um novo mercado segmentado do varejo, que incluem farmácias, supermercados, lojas infantis e de gestantes. Nas farmácias, por exemplo, estão disponíveis mais de 10 tipos de repelentes, com estoque mais de dez vezes maior que no mesmo período do ano passado.  Já nas lojas de produtos para bebês, os pais investem na compra de peças de roupas especiais e alongadas que protejam mais o corpo da criança. A mudança de hábitos da população ainda beneficiou a venda de mosquiteiros e até de raquetes que dão choques nos mosquitos.

A professora Anserluce Lopes, que está grávida de oito meses, afirma que não está em pânico com o crescente número de casos das doenças associadas ao mosquito Aedes aegypti como a microcefalia, por meio da zika, mas está se cuidando para não sofrer as consequências, principalmente por causa da gravidez. Ela conta que a primeira coisa que fez, quando começou o alerta na mídia sobre o problema, foi colocar telas nas portas e nas janelas de casa.

“Eu fiquei sabendo que o mosquito  geralmente age no turno da noite e de madrugada, então, por essa lógica, sair para trabalhar não se torna algo tão arriscado. Mesmo assim, cubro todo o corpo e não abro mão do repelente, principalmente antes de dormir. Mas não acordo no meio da noite para reaplicá-lo após que seu efeito passa”, brinca.

Os preços dos repelentes nas farmácias de João Pessoa variam de R$ 9,90 a R$ 61,90. Contudo, o modelo Exposis Infantil, que é o mais procurado no mercado, e também o mais caro, não para nas prateleiras. Em uma farmácia da Avenida Epitácio Pessoa, o gerente Wilton Jorge diz que o principal consumidor é a mulher grávida. “Antes do surto de microcefalia, doença que está associada à zika, nós tínhamos 10 unidades de repelente para vender. Hoje são mais de 100 unidades, em mais de dez tipos do produto”.

Wilton Jorge afirma que já houve ocasiões de a farmácia não ter nenhuma unidade para vender, mas nos últimos três meses, os estoques foram ampliados. “Hoje, há preços para todos os bolsos, a partir de R$ 9,90”.

Na farmácia ao lado, o subgerente Jordelânio Batista também destacou o aumento das vendas em mais de 20%. Mas também não há os produtos da marca Exposis, que anunciam uma proteção mais duradoura e conteúdo menos tóxico que os demais. Os preços dos sete tipos de repelente variam de R$ 12,99 a R$ 23,99.

Loja de roupa infantil amplia venda

Em uma loja de artigos infantis no centro da capital, o gerente Leonardo Pontes conta que está há quase um mês sem repelentes para crianças, mas disponibiliza outros produtos que contribuem com a segurança da saúde da criança. “Nos últimos meses temos percebido o aumento médio de 20% daquelas peças que cobrem mais o corpo do bebê, como os ‘bodies’ e os pijamas. Antes dos seis meses de idade, o recém-nascido não pode usar repelente, então os pais investem mais nos produtos”, conta ele. Os preços variam de R$ 18 a R$ 28.

O casal Jeane Leonardo e Markayvo Leonardo já garantiu o enxoval do bebê com peças que deixem o corpo do bebê menos exposto. Ela está grávida de oito meses de um menino e, assim como as demais mães, está preocupada com a saúde. “Eu comecei a usar repelente no corpo há seis meses para me proteger e proteger meu filho. Não cheguei a fazer estoque em casa, mas não deixo faltar”, afirma Jeane Leonardo.

O gerente Leonardo Pontes avalia que tem percebido uma queda nas vendas da loja, desde o ano passado, mas na opinião dele, isto se deve a uma diminuição do número de gestantes, além da crise da economia que afeta o varejo. “Alguns itens tiveram alta nas vendas por causa da zika, mas de modo geral os negócios caíram”.

Outros produtos
Outro tipo de negócio que vem faturando com a prevenção à zika é o da venda de mosquiteiros. Uma loja no Centro de João Pessoa especializada no produto vende mosquiteiros com preços de R$ 25 a R$ 160 (o modelo mais caro tem até uma armação para ser colocada acima da cama). O vendedor Edvaldo Fernandes diz que o negócio está aquecido. “Se a gente comparar com o ano passado, estamos vendendo muito mais. Mas em janeiro e fevereiro a procura estava em patamares muito elevados”.

A lista de produtos para proteger o corpo da picada do Aedes aegypti inclui até a raquete elétrica.  Em  um shopping popular no Centro de João Pessoa, o empreendedor Hildo Ferreira chega a vender até cinco raquetes por dia que dão choque. O produto custa R$ 18. “Todo mundo compra a raquete, mas as mulheres compram mais. É o nosso principal público”.