Economia
9 de junho de 2022
13:27

Engenhos: atividade fim da produção de cachaça se torna matéria-prima do turismo

Hoje, os engenhos são um núcleo econômico e social com sua história e natureza em volta. 

Matéria por Dani Fechine e Hebert Araújo

A cachaça está tão diluída dentro das nossas relações quanto o feijão e o açúcar, isto é, coisas que estão muito presentes no cotidiano. É como explica o professor José Luciano Albino. A cachaça se multiplica em marcas, eventos, conhecimento compartilhado, métodos de divulgação e distribuição. 

Onde há tanto valor simbólico e histórico, é sempre possível enxergar algo mais. Foi o que ocorreu com Maria Júlia em 2006. Sempre apaixonada pelo processo de produção da cachaça, Maria Júlia escolheu não esconder o passo a passo dessa cadeia produtiva e expandiu a cachaça para diversos segmentos turísticos. 

Hoje, os engenhos são um núcleo econômico e social com sua história e natureza em volta. 

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"A cachaça é um fato social total, ela é indústria, é comércio, é turismo, é essa atividade de intercâmbio comercial, de produção de conhecimento".
Professor José Luciano

Em 2006, Maria Júlia pediu exoneração do emprego e foi trabalhar no Engenho Triunfo junto com o marido. No decorrer do tempo, criou um ambiente aprazível para os visitantes, com locais para contemplação, aventura, diversão e degustação.

Quando mudaram para a propriedade atual, em 2018, melhoraram o acesso e o fluxo turístico. “Resolvi fazer outros atrativos para que isso realmente se tornasse um parque de ambiente para as famílias”, destaca Maria Júlia.

Engenho, hotel e atrações turísticas se misturam na Triunfo e transformam a cachaça muito mais do que um produto fim: é início de uma cadeia produtiva e meio de economia que se sustenta em um mercado em crescimento.

"Quanto mais tiver atividade, mais fluxo turístico tem, e isso a gente trabalha muito bem em Areia", explica Maria Júlia de Albuquerque. Para a produtora de cachaça, o processo produtivo e de relações tem como base o afeto.
 Hotel Triunfo, em Areia, na Paraíba. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba 

Gustavo Camilo Sabino trabalha com turismo há seis anos em Areia. Recebe milhares de pessoas o ano todo para fazer um circuito turístico na cidade. “De forma direta eu consigo ter um emprego e residir na minha cidade sem precisar ir para os grandes centros”, revela.

O turismo, no mundo inteiro, passou a ser uma atividade central. A globalização intensificou as relações de intercâmbio de toda ordem. De acordo com o historiador José Luciano, o turismo é uma dessas atividades de intensificação.

“No caso da Paraíba, a gente observa como o estado entra no circuito turístico, essa atividade incrementou muito esse setor econômico. O turismo não é mais algo que pode ser desconsiderado. E, no caso da cachaça, você não tem apenas um setor de fabricação. você tem um engenho que remete a José Lins do Rêgo, a José Américo de Almeida, a uma arquitetura única”, detalha José Luciano.

 

 Engenho Triunfo mescla produção da cachaça com atividade turística, na Paraíba. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba 

História de empreendedorismo e amor pela cachaça

A história da Cachaça Triunfo é um misto de empreendedorismo e amor. Tudo começou em 1994, quando Antônio Augusto recebeu por herança uma fazenda. Apesar de não ser filho de nenhum Senhor de Engenho nem ter os conhecimentos necessários para fabricar cachaça, ele tinha um sonho. Vendeu a fazenda e comprou uma pequena moenda e um alambique, dando, portanto, os primeiros passos. Maria Júlia, esposa e participante ativa do sonho, provou muita cachaça ruim. 

Depois de muito aprimoramento e, agora, com uma boa cachaça, iniciava-se um novo ciclo, era hora de fazer o produto chegar à boca do povo. Começaram a produzir em uma certa quantidade e as primeiras garrafas eram do tipo pet. Acabaram fazendo um grande estoque de cachaça, pois não conseguiam vender quase nada. Sem recursos financeiros, Antônio Augusto inventava as próprias máquinas e chegou a recusar diversas propostas de financiamento oferecidas por gerentes de bancos locais. Maria Júlia tinha dois empregos diurnos e, à noite, junto com os quatro filhos do casal, ajudava a engarrafar a cachaça que mais tarde seria vendida.

 

O tempo foi passando, as vendas ainda não estavam como desejadas, mas as garrafas já eram de vidro e com rótulo personalizado com uma foto da cidade de Areia. Com a demanda crescendo, era preciso investir em infraestrutura e máquinas.

Com o passar do tempo, as vendas foram aumentando e novos investimentos foram feitos, dessa vez em máquinas maiores e melhores. Hoje a Triunfo vende mais 250 mil garrafas por mês e a demanda só cresce, inclusive para exportação. 

O Engenho Triunfo recebe cerca de 1500 visitantes por mês, vindos de todo o Brasil e até do exterior. As pessoas podem conferir de perto todo o processo de fabricação da cachaça, conhecer a lojinha e os produtos da Triunfo, degustar as cachaças e os sorvetes de frutas tropicais com leve toque da cachaça, além de apreciar as belezas do lugar.