O “Mió” da comida regional comemora seu primeiro aniversário

Casa abriu no bairro do Bessa em plena pandemia e aposta no aconchego e na memória.

Parte da profecia do beato Antônio Conselheiro, anunciada no arraial de Canudos, lá no século XIX, se cumpriu: o mar já virou sertão, pelo menos gastronomicamente falando. A quantidade de lojas de produtos artesanais, pequenos cafés e restaurantes com a chamada “comida regional”, espalhadas pelos bairros de João Pessoa, é simplesmente incontável. O case clássico é o modelo de negócio implementado pelo Mangai: aquele que deu tão certo que, em menos de dez anos, transformou uma pequena “birosca” da praia de Manaíra em indicação estrelada do extinto Guia 4 Rodas (o mais próximo que estivemos de um Guia Michelin), depois em atração turística, para, logo em seguida, consagrar-se como referência de comida nordestina, ao exportar seu sucesso para outras quatro capitais do país. O fato real é que estamos muito bem servidos de lugares que atendem pessoas de qualquer parte do mundo com essa deliciosa combinação de sabores, que dá status de identidade cultural ao que levamos à mesa.

Sem espaço para listar as melhores atrações em funcionamento nesse segmento, a coluna faz um registro que merece destaque, e serve de reverência a todas as demais: o aniversário de 1 ano do Mió do Sertão, uma casa simpática, localizada no coração do Bessa, na rua José Simões de Araújo, 139. O “Mió” surgiu como uma tapiocaria de duas mesas, em novembro de 2020, no pico de contágio da pandemia, o que já significava uma aposta na superação. Com os nomes nada sertanejos de Hoechst, Enders, Kléber e Valéria, os quatro destemidos nordestinos apostaram que haveria fregueses no pós-apocalipse da COVID, e seguraram a onda até junho deste ano, quando, a salvo e fortalecidos, promoveram uma expansão do espaço e a ampliação do cardápio. O sucesso da empreitada pode estar sintetizado em uma frase, escrita em post recente no Instagram: “Nosso negócio não é exatamente refeição e produtos; é, na verdade, experiência, memória e aconchego.”

Essa formulação consciente que move o Mió do Sertão, baseada em nossas memórias afetivas, demonstram uma clara intenção de tratar a visita à casa como um mergulho reparador aos sons e sabores da tradição nordestina e ao aconchego doméstico das mesas em família. Intuitivamente ou não, quando a “parêa” Leneide Albuquerque, a partir da cozinha do Mangai, iniciou seu império à base de cuscuz, carne de sol, pamonha, tapioca e café, estava lidando com esses mesmos elementos. Parando por aqui as comparações, um ano após a inauguração, há muito o que o Mió do Sertão comemorar. Antenados com as melhores práticas sustentáveis, os sócios seguem atentos à qualidade da comida e do serviço, mantendo a valorização dos produtores paraibanos, a coleta seletiva de lixo e evitando o uso de descartáveis de plástico. É coisa de quem pensa e quer voar alto. Passada a pandemia, que venham os anos de fartura!