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ECONOMIA

Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba

Publicado em: 08/06/2022 às 12:41

Tudo começa na terra. No plantio. Pequenos e grandes produtores de cana-de-açúcar dão o primeiro passo para que a cachaça seja saborizada. Da colheita da cana até a mesa do consumidor, há centenas de trabalhadores envolvidos e um processo quente, extremamente eficaz para a qualidade elevada que hoje a cachaça ganhou na Paraíba. 

Essa reportagem foi construída em conjunto com a TV Cabo Branco e faz parte da série Engenhos, exibida no JPB2.

>> Leia todas as reportagens da série Engenhos

A cana-de-açúcar, além da base para produção da cachaça, é também suporte histórico da formação cultural paraibana, principalmente do Brejo. O seu processo de produção percorre caminhos semelhantes ao do passado, mas com um grau de modernização que contribuiu para a atual qualidade do produto. 

No pátio, uma pilha de cana-de-açúcar entrega o que é produzido no local. Logo atrás está o equipamento de moagem e fermentação da cana, hoje com uma tecnologia já avançada, que permite aproveitar melhor o líquido extraído da cana.

1- Primeiro, a cana-de-açúcar é plantada e, posteriormente, colhida. No Engenho Vaca Brava, por exemplo, que produz a cachaça Matuta, há uma parceria com pequenos lavradores de cana do Brejo paraibano. Eles plantam, colhem e fornecem a cana-de-açúcar ao engenho.

2- Com a cana-de-açúcar colhida, o produto vai para a estação do caldo. A máquina, para melhor entender, é uma versão maior de uma máquina de moer cana-de-açúcar para caldo de cana, encontrada nas ruas de muitas cidades da Paraíba. Antes, a cana passava no maquinário e saía quase que completa, apresentando um baixo rendimento de extração e um consequente desperdício do bagaço.

Hoje, com automação, há moendas com porte muito mais robusto. Depois que a cana passa pelo equipamento, quase tudo é aproveitado no caldo. O que sobra como bagaço é aproveitado como ração para a avicultura. 

3 - Após a moagem, o caldo recebe uma pequena adição de água para que o bagaço inche e seja aproveitado um pouco mais do que o produto pode oferecer. 


				
					Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba
Após a moagem, o caldo recebe uma pequena adição de água. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba. Rede Paraiba de Comunicacao

4 - O caldo passa, portanto, pelo processo de fermentação. A qualidade do caldo durante esse processo vai indicar também a qualidade da cachaça, dando a cada uma delas uma característica diferente.

5 - Em seguida há o processamento e destilação. De acordo com o professor Normando Mendes, hoje há uma preocupação muito maior com a seleção de leveduras dos engenhos da Paraíba. Esse processo vai influenciar diretamente na qualidade da cachaça. Destilações mais rápidas podem perder qualidade no produto final. 

6 - Por fim, antes de chegar na garrafa, as cachaças passam pelo tempo de envelhecimento ou descanso, para que os aromas se reorganizem dentro do meio. As cachaças brancas, por exemplo, têm um tempo de descanso de dois a três meses.

7 - Por último, as cachaças são engarrafadas ou enlatadas para seguirem ao consumidor final.


				
					Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba
Por último, as cachaças são engarrafadas ou enlatadas para seguirem ao consumidor final. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba. Rede Paraiba de Comunicacao

História de marca se mistura com a da cidade

Quando se pensa em criar uma marca de cachaça, preocupa-se não apenas com o líquido e a sua qualidade, mas com o rótulo, com o que ela vai representar. Na maioria das vezes, é preciso adquirir técnicas e equipamentos mais modernos para acompanhar a atual produção em larga escala da Paraíba.

Quando resolveu lançar a cachaça Matuta, Aurélio Júnior só colocou uma opção à disposição: fazer uma cachaça de qualidade. No entanto, para isso foi necessário adquirir técnicas e equipamentos mais modernos, como uma nova máquina para moagem da cana, movida à eletricidade, com moendas elétricas para extrair um melhor rendimento da moagem e obter mais caldo.

A história da Matuta se mistura com a da cidade de Areia, eleita Capital Paraibana da Cachaça. 

Tudo começou com os tropeiros, no início do século XVIII. Naquela época, as mercadorias eram levadas de um lado a outro do país no lombo de mulas e cavalos. Na hora do descanso, as tropas buscavam lugares estratégicos para o pernoite. Foi assim que surgiu a povoação de Areia, como ponto de parada de viajantes que iam do Sertão ao Litoral comercializando produtos. Foi só em 18 de maio de 1846 que a Capital Paraibana da Cachaça ganhou a alcunha de cidade.

O título não é à toa, já que Areia é a quarta cidade com o maior número de engenhos do país. A história da Cachaça Matuta, uma das principais produtoras da bebida na região, mistura-se com a identidade do lugar. 

Matuto era o nome dado ao tropeiro que comprava cachaça a granel nos engenhos e vendia no interior da Paraíba e estados vizinhos. Sua figura é parte do imaginário popular da época, assim como o som da moenda e o aroma doce da cana recém-moída.

O Engenho Vaca Brava, onde hoje é produzida a Cachaça Matuta, fica localizado na zona rural da cidade e está em funcionamento desde o século XIX. Das memórias afetivas de cinco gerações de cachaceiros nasceram as ideias inovadoras que hoje projetam a cachaça areiense no cenário nacional. O engenho esteve nas mãos de Aurélio Leal Freire, que depois passou a direção do negócio à geração seguinte.

Da mente criativa de Aurélio Júnior veio o insight que trouxe mais uma vez o título de pioneira a Areia. A Matuta foi a primeira marca do Brasil a vender cachaça de alambique envasada em lata. A ideia foi tida como loucura antes do lançamento, mas um bom areiense nunca tem medo de inovar.

De pai pra filho, a tradição dos alambiques, tão característica da região, está mais viva que nunca. A Matuta hoje produz cachaças premiadas nacionalmente, algumas envelhecidas em barris de madeiras como umburana, bálsamo, jequitibá, ipê, castanheira e jaqueira. A bebida vem tomando o seu espaço, despontando como uma nova tendência nesse mercado.


				
					Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba
Barris de cachaça. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba. Rede Paraiba de Comunicacao

Produção em larga escala

Para a Matuta atingir um nível maior de produção e distribuição da cachaça, foi necessário investimento em fermentação, leveduras e alambiques mais modernos. Hoje, todos são a vapor, proporcionando uma melhor constância da destilação, além de padronizar a qualidade do destilado.

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A gente viveu um período onde buscamos eficiência nos processos e, usando o benefício que as redes sociais e a modernidade trouxe, abraçamos isso para termos um melhor posicionamento do produto no cenário comercial”, explica Aurélio Júnior, se referindo também ao trabalho de marketing que vem sendo executado.

O incremento de novas variações da cachaça foi também uma maneira de buscar novos públicos consumidores. Hoje, a marca trabalha com carvalho francês e americano na composição do “black blend”. “É um tipo de investimento visando um aprimoramento do produto e isso tudo agrega valor monetário e de qualidade, além de atingir outros públicos que com cristal e umburana não tínhamos atingido”, destaca Aurélio Júnior. “O produto ganhou qualidade, cresceu, o público bebeu e passou a ser consumidor”, completa.

A produção da Matuta é, em média, de 42 mil litros de cachaça por dia, o que representa, aproximadamente, um milhão de litros por mês. Entre setembro e janeiro, há o período de colheita da cana, quando também é necessária uma produção maior para enfrentar a entressafra e ter produto armazenado. Além disso, a marca gera cerca de 100 empregos diretos e, indiretos, o número pode subir cinco vezes mais.


				
					Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba
Diferentes produtos da cachaça Matuta. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba. Rede Paraiba de Comunicacao

Cachaça de geração para geração

A cachaça também conta histórias familiares na Paraíba. Nos anos 1940, a marca Volúpia surge com a família Lemos e segue com sua popularidade até hoje. As terras, no entanto, também de propriedade da família, são mais antigas e datam do ano de 1847, quando a família fabricava cachaça e rapadura. Esta última tem sua produção cessada em 1980, quando apenas a cachaça passa a ser produzida.

“Quando comecei a parte técnica, existia 150 componentes elencados na cachaça, hoje são mais de 300. Componentes, estudos, que promovem a melhoria do produto”, explica o produtor de cachaça Vicente Lemos.

A Cachaça Volúpia nasceu no Engenho Lagoa Verde, município de Alagoa Grande e está localizado a 105 km da capital João Pessoa, utilizando desde os seus primórdios um método artesanal de fabricação e plantação orgânica.


				
					Processo de fabricação da cachaça passa por modernização e aumento da produção na Paraíba
Cachaça Volúpia foi a 1ª cachaça no Brasil a engarrafar sua bebida em garrafas de porcelana. Foto: Reprodução/TV Cabo Branco. Cachaça Volúpia. Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

A tradicional cachaça paraibana sempre pertenceu à família Lemos, desde o século XIX, e atravessou várias gerações buscando resgatar a história, a cultura e a tradição da bebida. 

Um destaque da marca é que a cachaça Volúpia foi a 1ª cachaça no Brasil a engarrafar sua bebida em garrafas de porcelana. “A cachaça deve ser tratada como material nobre, então a proposta era agregar valor ao produto e chamar atenção para o produto. E vem junto disso o aprimoramento”, destaca Vicente Lemos.

São cinco gerações envolvidas na família. Tudo começou com Antônio Lemos, que passou as terras onde é fabricada a cachaça para seu filho Manoel de Lemos, depois veio Otávio Lemos de Vasconcelos na sucessão dos negócios que, com sua visão inovadora, criou e idealizou a marca Volúpia. Seu filho, José Ribamar Lemos continuou as atividades da empresa, e nos dias atuais, a Cachaça Volúpia está sob a direção de Vicente Otávio Lemos. 

A produção da Volúpia hoje é monitorada e rastreada, garantindo segurança para quem produz e consome. A plantação de cana-de-açúcar é própria e eles controlam remotamente da cana à fabricação.

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Dani Fechine

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