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EDUCAÇÃO

Diretor americano fala como levar alunos pobres às universidades

Ky Adderley contou que a nova política nasceu da necessidade de adequar o método de ensino aos alunos e é baseado em três pilares: disciplina, dedicação e desejo.

Publicado em 13/09/2008 às 9:20

Maurício Melo
Enviado especial a Natal

Diretor de uma das escolas Kipp (Knowledge Is Power Program, que traduzido quer dizer Programa Conhecimento é poder) nos Estados Unidos, Ky Adderley esteve no Brasil para conhecer uma rede virtual de educação e dividir experiências com professores e gestores da educação de vários estados do Brasil. A rede de escolas da qual faz parte implementou uma nova política educacional que vem trazendo bons resultados em todos os estados em que foi instalado e que pretende, entre outras coisas, trazer alunos pobres para conhecer o Brasil.

Ky participou do encontro Tonomundo, do Oi Futuro, que aconteceu na capital norte riograndense entre os dias 9 e 13 deste mês. O evento reuniu representantes de  68 escolas de quase todos os estados do Brasil e mais oito secretarias estaduais ou municipais. Além deles, uma representante do governo de Moçambique também participou anunciando sua entrada no programa.

O americano contou que a nova política nasceu da necessidade de adequar o método de ensino aos alunos e é baseado em três pilares: disciplina, dedicação e desejo. Para ajudar a alcançar seus objetivos, Ky disse que utiliza a Capoeira brasileira. “Precisávamos de uma arte marcial para ensinar disciplina e o nosso público é formado por afro americanos e latinos. Então, a capoeira se encaixa perfeitamente”.

Ele explicou que a fundamental diferença entre as 66 escolas Kipp e as demais é a forma de tratar e ver o aluno da rede pública. “Nós cobramos e exigimos dos nossos alunos para que eles estejam sempre estimulados. Nós dizemos sempre para eles que são capazes e fazemos com que suas expectativas sejam sempre altas. Assim quebramos um ciclo de pobreza e violência”, explicou.

Adderley contou que estudou em escolas públicas quando criança, depois ganhou uma bolsa e fez o ensino médio numa escola particular. No científico, ele voltou a estudar numa escola pública e percebeu que lá não havia cobrança dos professores. “Era como se não fossemos capazes de ir à faculdade. As expectativas sobre nós eram muito baixas”.

Ao entrar na faculdade, Ky teve a chance de estudar o assunto e discutir formas de como mudar este quadro. Daí surgiu a proposta das escolas Kipp, que é uma Charter School, ou seja, uma escola onde os poderes públicos e privados trabalham juntos. Assim, a escola tem autonomia para gerir suas contas e sua metodologia de ensino, mas é financiada pelo governo.

Segundo Ky, o governo impõe regras no ensino público que engessam as escolas. “Eu acredito que dentro de uma escola, o mais gabaritado para saber o que é o melhor a se fazer é o professor”. Assim, o corpo de professores da escola pode decidir diminuir a carga de uma disciplina e aumentar em outra para um determinado aluno. “Nós alunos deficientes rendem tanto quanto os demais porque nós adaptamos seu ensino para que ele seja mais cobrado onde precisa. O segredo é trabalhar pesado”.

Além do tratamento diferenciado dos alunos, a escola também oferece um horário estendido de aulas e atendimento. “Na minha escola as crianças entram às 7h e saem às 17h e também há quatro horas de aulas no sábado”.Além de uma grande flexibilidade na oferta das disciplinas. “Se a criança vai mal em inglês, terá mais aulas de inglês, se estiver mal em matemática, fará mais aulas de matemática e menos de esporte ou capoeira”, explicou. Eles disse que as escolas Kipp começaram com 50 alunos e pretendem formar 25 mil até 2011.

Para o diretor, manter as crianças na escola é uma ótima forma de mantê-las fora de confusão e ajuda-las a crescer educacionalmente e profissionalmente. “Durante as férias, a escola fica aberta com programas e eventos que atendem os que quiserem estudar ou trabalhar. Fizemos da escola um lugar onde as crianças querem estar”.

Estas mudanças não acontecem somente abrindo novas aulas ou aumentando a carga horária. É preciso, segundo o americano, ter professores preparados e dispostos a oferecer mais do que o conteúdo de suas aulas. Ele sugere que os professores ensinem suas matérias, mas também “ensinem os alunos a ouvir, a se sentar na sala de aula, a respeitar as pessoas e que coisas boas acontecem quando se faz as coisas do jeito certo”.

“Eu percebi que os alunos pobres não tinham professores qualificados, eles não eram estimulados nem cobrados. Suas expectativas eram muito baixas, ninguém dizia para eles que eles poderiam ser bons”, disse. Para achar bons professores para sua escola, Ky contou que oferece 20% a mais do que governo paga para os professores, mas “eles vão ter que ficar 20% mais tempo na escola também”. Ele também financia a qualificação de seus professores.

Está nas atribuições dos professores de Ky também, ouvir os alunos, entender o que está acontecendo nas suas aulas para poder adequar o conteúdo de maneira que possa atingir os estudantes. “É preciso conversar com as crianças. Vamos mostrar ao mundo que assim podemos tudo”. O diretor colocou viagens no programa da escola e, além de visitar vários estados americanos, ele pretende trazer alunos à Bahia, no Brasil, para conhecer o berço da capoeira.

Para ele, a capoeira traz muitos valores aos negros americanos. E é descobrindo a história que ele estimula o interesse dos alunos pela própria cultura. “Muitos negros só sabem ou lembram que nossos antepassados eram escravos. A capoeira traz mais, mostra que os negros têm uma história muito mais bonita. Assim, abrimos muitas outras possibilidades na cabeça e na vida destes estudantes”, revelou.

Há um lema que foi muito repetido na palestra: sem atalhos, sem desculpas. Ky acredita na total integração do corpo docente com seus alunos. “Quando um aluno falta, eu ligo para a casa dele para saber o porquê. Não aceito desculpas, se há um problema me proponho a ajudar na solução”, diz contando que já foi na casa de todos os seus alunos para conversar com seus pais e lhes propor parceria. “Assim, faço os pais entenderem que a boa educação é o melhor caminho”.

Segundo o educador, é feito um contrato com as famílias. Ele explica a importância de não se atrasar, de respeitar as regras, os professores e os colegas. “Se houver problema, mesmo que seja em casa, com a família, queremos que a criança nos peça ajuda. Nós ajudaremos. E o mesmo vale para suas famílias”, promete.

Outra “arma” usada pela escola para driblar dificuldades é a tecnologia. Com aulas filmadas, a escola oferece aos alunos a oportunidade de rever a aula passada ou assistir uma aula perdida. É assim também que professores são avaliados e reciclados.

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Jornal da Paraíba

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