Relatório do IPCC: “é necessária ação ambiciosa e acelerada para se adaptar às mudanças climáticas”, diz o documento

Documento alerta que para evitar a perda crescente de vidas, biodiversidade e infraestrutura são nessários cortes rápidos em emissões de gases de efeitos estufa.

Queimadas no sul do Amazonas. Foto: Gabriela Biló

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgou, nesta segunda-feira (28), um novo relatório sobre os impactos das mudanças climáticas no mundo. O documento alerta que ações urgentes são necessárias para lidar com os riscos trazidos pelas variações.

Conforme o texto, para evitar a perda crescente de vidas, biodiversidade e infraestrutura, é necessária uma ação ambiciosa e acelerada para se adaptar às mudanças climáticas, com cortes rápidos em emissões de gases de efeitos estufa.

“Este relatório é um alerta terrível sobre as consequências da inação”, declarou Hoesung Lee, presidente do IPCC.

O relatório do IPCC ainda destaca que as adaptações tem sido desiguais e insuficientes diante da rapizes dos impactos.

“Isso mostra que a mudança climática é uma ameaça grave e crescente ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações hoje moldarão como as pessoas se adaptam e [como] a natureza responde aos crescentes riscos climáticos”, completou Lee.

Em agosto do ano passado, um relatório do IPCC apontou que a ação humana era responsável por um aumento de 1,07ºC na temperatura do planeta. A meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, era limitar o aquecimento global a 2ºC, com esforços para que ele não ultrapasse os 1,5ºC.

Entre os pontos mais alarmanetes do documento está um trecho sobre o futuro das crianças. O texto diz que, se ainda estiverem vivas no ano de 2100, vão passar por quatro vezes mais extremos climáticos do que passam agora – mesmo se houver apenas mais alguns décimos de grau de aquecimento na temperatura do planeta.

Já se as temperaturas aumentarem por volta de 2ºC, elas verão cinco vezes mais inundações, tempestades, secas e ondas de calor do que agora, alertam os cientistas.

Os autores afirmam que a cada 0,1ºC de aquecimento, mais pessoas morrem de estresse por calor, problemas cardíacos e pulmonares por calor e poluição do ar, doenças infecciosas, doenças causadas por mosquitos e fome. Se o mundo aquecer apenas mais 0,9ºC a partir de agora a quantidade de terra queimada por incêndios florestais em todo o mundo aumentará em 35%.

Ainda segundo o IPCC, até 2050, um bilhão de pessoas enfrentarão o risco de inundações costeiras devido à elevação do nível do mar. Mais pessoas serão forçadas a deixar suas casas devido a desastres climáticos, especialmente inundações, aumento do nível do mar e ciclones tropicais.

“As mudanças climáticas estão matando pessoas”, disse a coautora Helen Adams, do King’s College London. “Sim, as coisas estão ruins, mas na verdade o futuro depende de nós, não do clima.”

O relatório lista perigos crescentes para pessoas, plantas, animais, ecossistemas e economias – e destaca pessoas sendo deslocadas de suas casas, lugares se tornando inabitáveis, número de espécies diminuindo, corais desaparecendo, gelo derretendo e aumentando o nível do mar e oceanos cada vez mais ácidos e pobres em oxigênio.

“Este relatório é uma luz vermelha piscando, um grande alarme para onde estamos hoje. Pela primeira vez, o IPCC fala explicitamente da preocupação com os impactos humanitários das mudanças climáticas que já ocorrem hoje”, declarou Maarten van Aalst, diretor do Centro Climático da Cruz Vermelha Internacional e coordenador do relatório.

“Estamos sendo confrontados com riscos crescentes de desastres em muitos lugares. Mas o relatório também mostra que podemos fazer algo a respeito. Só precisamos aumentar nossa ambição dramaticamente à luz do que este relatório está mostrando que está vindo em nossa direção”, disse.

O que é IPCC?

O IPCC é a sigla em inglês para Intergovernmental Panel on Climate Chance (ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O órgão foi criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial para sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas.

É importante salientar que o IPCC não produz pesquisa original, o painel reúne, avalia e interpreta o conhecimento produzido por cientistas de alto nível – tanto os independentes quanto aqueles ligados a organizações e governos – e traduz em relatórios abrangentes, de fácil compreensão e acessíveis para todos.

As avaliações do IPCC são relevantes para as políticas, mas não são prescritivas: podem apresentarprojeções de mudanças climáticas futuras com base em diferentes cenários e os riscos que as mudanças climáticas representam. Discutem, ainda, as implicações das opções de resposta, mas não informam aos formuladores de políticas quais ações devem ser tomadas.

O Painel está dividido em três grupos de trabalho e uma força-tarefa:

  • Grupo I se concentra no tema clima
  • Grupo II trata dos impactos das mudanças de clima e possíveis soluções.
  • Grupo III estuda as dimensões econômica e social dos efeitos da mudança climática

O IPCC já publicou cinco grandes relatórios de avaliação. Em 2021 começou a ser publicado o sexto relatório, o AR6. O documento lançado nesta segunda-feira (28) é a segunda parte do AR6.