Miles Davis, último gênio do jazz, morreu há 25 anos

Nesta quarta-feira (28), faz 25 anos da morte de Miles Davis.

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Foi o último gênio do jazz. Depois de Miles, não surgiu ninguém com a sua dimensão. Quantas revoluções podem ser atribuídas a ele? A resposta é que ninguém esteve à frente de tantas transformações no universo jazzístico. Três, pelo menos. Talvez quatro. Entre o cool e a fusion, em pouco mais de 20 anos. Alguns discos essenciais marcam estes momentos, mas o melhor é ouvi-lo em sua extensa discografia, com algumas obras-primas, altos e baixos, erros e acertos. No virtuosismo ou na contenção. Do jeito que ele era.

É bom conversar com Gilberto Gil sobre Miles Davis. Eles eram amigos. Quando se encontravam, nos Estados Unidos ou na Europa, Miles sempre perguntava pelo albino. Referia-se a Hermeto Pascoal, com quem tocou na época em que fundiu o jazz com o rock. E de quem gravou Igrejinha. No repertório de Gil, tinha uma preferência: o Rock do Segurança. Gostava daquela introdução “esgarçada”. Exilado na Inglaterra, Gil foi levado por Miles para cumprimentar Jimi Hendrix. O maior de todos os guitarristas morreria dias depois. A outro brasileiro, albino como Hermeto, passou um telegrama dizendo que estava reconciliado com a sanfona, instrumento que detestava. O destinatário: Sivuca.

Miles Davis era um sujeito atormentado. Inconformado com o preconceito racial. E vítima dele num episódio de violência que envergonha os Estados Unidos. No intervalo de um show, em frente a uma casa noturna, foi brutalmente espancado, sob o pretexto de que fora confundido com um “desocupado”. Trocou a América pela França, grande reduto do jazz. Lá, recebeu as honras que lhe faltavam no seu país. E gravou a trilha do filme Ascenseur Pour L’Échafaud. Mas foi com os músicos americanos que atingiu os pontos altos de sua trajetória. Com pequenas ou grandes formações, acústico ou elétrico, revolucionando ou degustando a transformação. Multifacetado e genial.

Li algo sobre três “casamentos” na música americana: o de Frank Sinatra com o arranjador Nelson Riddle, o de Duke Ellington com seu parceiro Billy Strayhorn e o de Miles Davis com o maestro Gil Evans. São uniões exemplares que, no século XX, tornaram a música do mundo mais rica e mais bela. Davis e Evans fizeram quatro discos juntos. Foram de George Gershwin à Bossa Nova, mexendo com os conceitos do arranjo jazzístico, explorando timbres que ainda hoje impressionam, embora mais de meio século nos separe daquelas gravações.

Três discos nos apresentam ao que há de mais importante na música de Miles Davis, o que foi mais revolucionário: Birth of the Cool, Kind of Blue e Bitches Brew. Este último promove a fusão do jazz com o rock. Rompe e une a um só tempo. É ousado, radical e definidor do som que Miles produziria dali por diante. A fusão eletrifica o jazz, mas a performance de Davis tem uma contenção que é o oposto do virtuosismo. Como se uma nota valesse por mil.

Portrait of US jazz trumpet player Miles Davis taken 06 July 1991 in Paris. Portrait du trompettiste de jazz Miles Davis pris lors d'un concert le 06 juillet 1991 à la Halle de la Villette à Paris. (Photo credit should read PATRICK HERTZOG/AFP/GettyImages)

No fim da vida, em sua última apresentação no Festival de Montreux, Miles Davis voltou ao passado. Regido por Quincy Jones, tocou o repertório que gravara com Gil Evans. Foi seu concerto de despedida.