Memória afetiva: Sivuca reencontra seus conterrâneos

João Pessoa, outubro de 1974. A placa (como um pequeno outdoor), colocada no jardim do Teatro Santa Roza, anunciava a quem passava pela Praça Pedro Américo: “Domingo, Sivuca”.

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Radicado em Nova York há uma década, Sivuca vinha de um show no Zaire, integrando a banda de Miriam Makeba na programação musical montada para coincidir com a luta entre Muhammad Ali e George Foreman. De passagem pela Paraíba, receberia uma homenagem do governo do Estado no palco do velho teatro. Também tocaria para seus conterrâneos.

Tinha apenas 44 anos e já era uma figura lendária. Severino Dias de Oliveira – sanfoneiro, violonista, pianista, compositor, arranjador. Um músico completo que chamara a atenção de todos, ouvintes e colegas de ofício, por onde passara. Dentro e fora do Brasil. Desde que, aos 15 anos, saíra da sua pequena Itabaiana para tentar a sorte no Recife.

No domingo, o Santa Roza estava lotado. Poltronas, camarotes, corredores. Sivuca chegou ao teatro num fusca branco dirigido por Glória Gadelha, estudante concluinte de medicina, compositora, que viria a ser sua mulher por mais de três décadas. Ovacionado pela plateia, o homenageado recebeu uma placa da Secretaria da Educação e Cultura e depois tocou.

Nada ajudava. O som precário, o calor, o excesso de público. Mas a música se sobreporia a todos os obstáculos. Sanfona, violão, voz, temas instrumentais, canções, histórias. A versão multinacional do frevo “Vassourinhas”; o standard “Moonlight Serenade”, da orquestra de Glenn Miller; a já clássica “Adeus, Maria Fulô”, da parceria com Humberto Teixeira; a novíssima “Reunião de Tristeza”, letra e melodia escritas em Nova York por um homem com saudade de casa – estava tudo no set list daquele recital.

Um Sivuca solo raro de se ver, numa noite inesquecível que confirmava a lenda.

No próximo post, vou falar sobre a última vez em que estive com Sivuca.

(A foto, encontrei no Google. Sivuca dá entrevista em Itabaiana. Muito provavelmente, na sua visita à Paraíba em 1974)