Jerry Adriani era do bem. Como a sua música

Na infância, vi Jerry Adriani na televisão, ouvi no rádio. E fui ao cinema pelo menos duas vezes para vê-lo naqueles filmes que aproveitavam o sucesso dos astros da música popular. Essa Gatinha É Minha e A Grande Parada. Lembram? Um deles, se não estou enganado, era dirigido pelo ator Jece Valadão.

Jerry Adriani era do bem. Como a sua música

Na minha memória afetiva, o paulistano Jerry Adriani, que morreu neste domingo (23) aos 70 anos, evoca aquela época, a segunda metade da década de 1960. A ingenuidade e a vitalidade da Jovem Guarda e do que estava ao seu redor em contraponto ao Brasil mergulhado numa longa noite.

(Pausa para a foto: Jerry com Bethânia, Nara e Danuza)

Jerry Adriani era do bem. Como a sua música

Jerry, mesmo na juventude, soava como um cantor antigo. Era um astro do rock, mas tinha a voz empostada de tenor, como os cantores românticos da Itália. Como o próprio Elvis Presley, um dos seus ídolos. Batizado Jair, seu nome artístico traduzia a mistura: Jerry dos americanos, Adriani dos italianos.

Seu momento de maior êxito está ali, nos primeiros anos da carreira. Mas seu nome está ligado a uma figura fundamental do rock brasileiro que só se consolidaria nos anos 1970: Raul Seixas, que o acompanhou quando ainda era Raulzito. Jerry gravou Raul e foi produzido por este na velha CBS. Se quisermos ir mais longe, seu jeito de cantar ecoou no rock brasileiro da década de 1980, na grande semelhança que havia entre a sua voz e a de Renato Russo.

O sucesso avassalador passou, mas Jerry Adriani se manteve ativo e com um público fiel até o fim da vida. Amadureceu e envelheceu cantando bem. E, acertadamente, flertou com algumas coisas que não tinham nada a ver com o repertório que cantou nos anos 1960.

Estive com ele duas ou três vezes em conversas muito agradáveis. Um cara cordial, simples, que parecia despido de traços tão comuns no mundo da fama. Como costumam dizer, era do bem. Como a música que produziu para alegrar seus fãs. Dentro ou fora do estrelato.