Fala de Dom Delson aponta para igreja desconectada da realidade

Li aqui mesmo no Jornal da Paraíba a fala do arcebispo Dom Delson sobre nudez no museu, ideologia de gênero, ameaças à família – temas colocados em debate pelas vozes mais (usarei um termo antigo) reacionárias.

Vou contar uma historinha:

Houve um tempo em que a prefeitura de João Pessoa realizava a Paixão de Cristo em Artdoor para celebrar a Semana Santa.

Artistas plásticos convidados faziam trabalhos sobre as estações da via sacra que eram expostos em outdoors ao redor do Parque Solon de Lucena.

Em 1990, escalado para fazer a quinta estação (Simão Cirineu), Miguel dos Santos pintou um Cristo que era, ao mesmo tempo, homem e mulher.

Houve protestos. Teve até gente que jogou tinta no outdoor.

Na TV Cabo Branco, mandei fazer uma matéria sobre o trabalho de Miguel. Entre os entrevistados, estava o arcebispo Dom José Maria Pires.

Sabem qual foi a reação dele?

Ficou do lado do artista e disse que Deus era homem e mulher ao mesmo tempo. E assunto encerrado.

Lembrei dessa história quando vi a fala de Dom Delson no Jornal da Paraíba.

É triste, mas parece que não temos mais arcebispos como Dom José (e tantos outros do clero progressista) – um homem moderno, antenado com a contemporaneidade, capaz de dar as mãos a um judeu e um ateu para, juntos, fazerem uma cantata.

A Igreja Católica da Paraíba vem de uma experiência desastrosa com Dom Aldo.

Agora temos Dom Delson. Não o conheço. Mas espero, sinceramente, que seja um verdadeiro pastor para o rebanho católico.

Confesso que achei lamentável a fala dele. Aponta para o pior das tradições católicas, para o que a instituição, historicamente, tem de mais atrasado e – por que não? – menos fiel ao Evangelho de Cristo.

Pois é!

Conheci católicos nada cristãos. Conheci ateus muito cristãos. Ainda creio numa Igreja verdadeiramente identificada com o Evangelho, libertadora. Talvez haja algo disso no Papa Francisco.

Dizer que isso não é arte, reagir mal à nudez no museu, achar que a ideologia de gênero vai destruir a família – a Igreja que a gente enxerga na fala de Dom Delson não está conectada com a contemporaneidade. É atrasada. Não é moderna.

(de reacionarismo, na cúria, basta o que tivemos com Dom Aldo!)

Saudades de Dom José!