Um dia desses, chamei Elomar de adorável reacionário, palavra antiga que ainda gosto de usar.
Numa mensagem in box, um amigo, mencionando alguém cujo nome vou preservar, me disse: Elomar é um adorável reacionário, e fulano é um detestável reacionário.
É verdade. Detestável hoje, que está na direita.
Detestável ontem, quando era de esquerda.
Fiquei, então, pensando em adoráveis e em detestáveis reacionários.
Há um reacionário que me é muito caro:
Nelson Rodrigues.
Renovou o teatro brasileiro.
Fez literatura de alto nível, escrevendo em jornal.
Folhetins, crônicas sobre futebol, cultura, política, memória.
No fundo, escrevia sobre o homem. O homem de qualquer tempo.
Faz uma falta imensa ao Brasil!
Já pensaram o Brasil de hoje visto por Nelson Rodrigues?
Agora mesmo, que estamos há 50 anos de 1968, andei relendo crônicas que ele escreveu no ano que – dizem – não terminou.
Dão conta do Brasil de meio século atrás, mas conservam um frescor invejável.
Nelson Rodrigues!
Um adorabilíssimo reacionário, guiado por um talento extraordinário, um texto primoroso, uma inteligência rara.
A extrema direita que frequenta as redes sociais não há de ter lido Nelson.
