Moa do Catendê foi assassinado

Moa do Catendê foi assassinado

Passei o carnaval de 1980 em Salvador.

Fui atraído principalmente pelo Trio Elétrico Dodô & Osmar, que, naquela época, tinha Moraes Moreira como cantor.

Eu era louco pelo trio e tinha que ver aquilo tudo ao vivo.

Pra libertar meu coração

Eu quero muito mais

Que o som da marcha lenta

Três rapazes e três moças, praticamente sem dinheiro, viajando de ônibus. Era o nosso grupo. Nossas pequenas malas ganharam nomes de filmes. A Volta ao Mundo em 80 Dias, 2001: Uma Odisseia no Espaço, etc. Ficamos hospedados na casa de uma paraibana que morava no Rio Vermelho. Um carnaval maluco e inesquecível.

Em um dos dias, fui de ônibus para o centro. No meio do percurso, as pessoas começaram a cantar alegremente, batendo no teto do veículo, e eu me juntei a elas:

Misteriosamente

O Badauê surgiu

Sua expressão cultural

O povo aplaudiu

Fiquei comovido. Era uma manifestação espontânea, forte e bela. Verdadeira afirmação dos pretos daquela cidade.

A música, de Moa do Catendê, eu conhecera no ano anterior, gravada por Caetano Veloso no disco Cinema Transcendental. O mesmo disco onde está Beleza Pura.

BELEZA PURA! – que eu assim li na manchete de um dos jornais da Bahia na quarta-feira de cinzas, quando me preparava para voltar pra casa.

Nesta segunda-feira (08), leio com tristeza que Moa do Catendê foi assassinado a facadas depois de dizer a um bolsonarista que votara em Haddad.