A esquerda não deve comemorar a “morte” da Folha de S.Paulo

Nos últimos tempos, vi, centenas de vezes, gente de esquerda usando as redes sociais para bater na Folha de S.Paulo. Dizer coisas insanas que atentam contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.

O mais triste era constatar que, entre essas pessoas, havia jornalistas e professores de jornalismo.

Nesta segunda-feira (29), vi, no Jornal Nacional, o presidente eleito Jair Bolsonaro dizer que a Folha se acabou por ela própria.

E vi William Bonner, editor e apresentador do JN, dizer que a Folha é um jornal sério.

Nesta terça-feira (30), vi gente de esquerda dizer que não lamenta o que está ocorrendo com a Folha.

Quando o assunto é liberdade de imprensa, os extremos são muito parecidos.

São muito parecidos na incapacidade de compreender o papel que a grande mídia, com todos os seus defeitos, desempenha nas democracias.

No dia da eleição, ouvi de um eleitor de Bolsonaro que o Jornal Nacional do sábado foi um verdadeiro guia eleitoral de Haddad.

Ao mesmo tempo, ouvi de um eleitor de Haddad que o Jornal Nacional fez campanha para Bolsonaro.

Tentei explicar a ambos que os perfis dos candidatos (cada um com 11 minutos) foram diferentes porque Haddad estava em campanha nas ruas, enquanto Bolsonaro estava em campanha dentro de casa. Foi inútil. Cada um permaneceu com a sua visão.

Para a direita, a Folha já se acabou.

Para a esquerda, já vai tarde.

A esquerda, no lugar de comemorar a “morte” da Folha de S.Paulo, deveria pensar no papel que o jornal pode desempenhar durante o futuro governo.