CD natalino de Eric Clapton é tão triste quanto o Natal

CD natalino de Eric Clapton é tão triste quanto o Natal

Cresci ouvindo ótimos LPs de Natal que meu pai tinha em sua discoteca. Nada de A Harpa e a Cristandade, que era horrível e tocava em todos os lugares.

Eram orquestras, ou corais, interpretando os clássicos natalinos, desde a inevitável Silent Night até White Christmas, de Irving Berlin, que, àquela altura (anos 1960), já havia se transformado num clássico.

Os discos eram tão alegres quanto o próprio Natal. É o que a gente pensa na infância.

Mais tarde, perdas acumuladas, as canções natalinas são tão tristes quanto o Natal. É o que a gente sente na medida em que o tempo passa.

Eric Clapton ficou velho e doente antes de gravar seu disco natalino. Muitos fizeram mais cedo. Sinatra, Elvis, Ray Charles, Stevie Wonder. Até Bob Dylan, que não é cristão.

O CD de Clapton, lançado há pouco, se chama Happy Xmas.

Na capa tem um Papai Noel desenhado pelo artista. Um desenho infantil.

É um disco belo e triste. Produto de um artista cuja doença – neuropatia periférica, consequência do alcoolismo – quase o impede de tocar guitarra e praticamente o tirou dos palcos.

E é um disco cheio de blues. Não poderia ser diferente em se tratando de Eric Clapton. A escolha acentuou a melancolia que há nesse repertório gravado pelo grande guitarrista.

Também há um pouco de country e baladas.

White Christmas e Silent Night, óbvias, estão no disco ao lado de canções muito menos conhecidas.

Somente a versão dance de Jingle Bells não combina com as demais faixas. Mas pode ser uma tentativa de animar um pouco a festa.

Happy Xmas não soa como um disco natalino tradicional. Soa como um disco de Eric Clapton.

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Quando estava perto de morrer, ao ser indagado sobre que presente de Natal queria receber, Frank Sinatra respondeu à filha Nancy:

Viver para ter mais um Natal. 

Que Eric Clapton ainda tenha vários.