Por que A União de hoje não olha para A União de 40 anos atrás?

O compositor Dida Fialho falou mal do som ao participar de um show promovido pela PBTur.

O jornalista Luiz Augusto Crispim, presidente da PBTur, respondeu ao artista com palavras inaceitáveis.

Na página de opinião de A UNIÃO, publiquei um artigo contra Crispim e a favor de Dida.

Com o artigo publicado, Crispim me ligou. Disse que reconhecia o erro e que marcara um encontro com Dida para se desculpar.

Isso aconteceu ali na virada da década de 1970 para a de 1980.

Quando lembro do episódio, penso no pessoal e no coletivo.

No pessoal, creio que, na hora das críticas, houve açodamento tanto em Dida quanto em Crispim. Mas enalteço o gesto de Crispim ao admitir o erro, bem como a aceitação do pedido de desculpas por Dida.

No coletivo, reflito sobre o papel de A UNIÃO, o jornal do governo da Paraíba.

A história que contei é da época do primeiro governo de Tarcísio Burity. Ele dizia não entender democracia sem imprensa livre.

Natanael Alves era o superintendente de A UNIÃO. Gonzaga Rodrigues, o diretor técnico. Agnaldo Almeida, o editor. Grandes cabeças à frente de um jornal do governo que deveria ser tratado como se não pertencesse a quem está no poder.

Havia esse esforço em A UNIÃO de 1979, 1980, 1981.

O suplemento JORNAL DE DOMINGO foi o ponto alto desse esforço.

Reconhecidas as limitações do próprio DNA do jornal, buscaram-se alternativas.

O JORNAL DE DOMINGO, gestado por Agnaldo Almeida, era uma espécie de território livre dentro do jornal do governo.

Gregório Bezerra, aquele que os golpistas de 64 arrastaram pelas ruas do Recife, voltou do exílio na União Soviética.

Será que A UNIÃO poderia entrevistá-lo? Afinal, Gregório era reconhecidamente um comunista, e, de simpatia por comunista, o governo da Paraíba de então não tinha absolutamente nada!

Claro que A UNIÃO pode! – deve ter dito o editor, e lá estávamos nós diante de Gregório, na sala da editoria.

Ele, sentado num sofá. Nós, ao seu redor, alguns espalhados pelo chão. Os mais velhos e experientes e também os bem jovens.

Outro dia, foi Tancredo Neves, ouvido por Wellington Fodinha.

“Viveremos dias de muita turbulência”, disse Dr. Tancredo, líder moderado, mas imprescindível, da oposição à ditadura.

No JORNAL DE DOMINGO, A UNIÃO ia além de um mérito a ela sempre atribuído: de que pode tudo quando o assunto é cultura. Naquele suplemento, ela podia tudo na cultura e conseguia ultrapassar esse limite.

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A história que contei no início – do episódio envolvendo Crispim e Dida – pode ser resumida assim:

Em A UNIÃO de 40 anos atrás, era possível, com responsabilidade, publicar um artigo contra o presidente da PBTur, auxiliar importante do governo.

É um bom parâmetro para se pensar A UNIÃO de qualquer tempo.