Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros…

No começo dos anos 1970, não era fácil ver um filme em casa (a não ser os que passavam na televisão).

Mas havia cópias em 16 mm para alugar nas grandes distribuidoras de cinema, desde que você tivesse dinheiro e acesso a um projetor daquela bitola.

Elis Regina fazia sessões de cinema em casa.

Numa dessas, convidou César Camargo Mariano.

O filme – creio que Morangos Silvestres, de Bergman – era mero pretexto. A cantora queria mesmo conquistar o pianista.

A cantada veio no meio da sessão. Numa ida ao banheiro, Elis jogou um bilhete ousado no bolso de César, e o resto da história todo mundo conhece.

Os dois foram marido e mulher por uma década, e César, arranjador e pianista dos melhores discos que Elis gravou.

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Lembrei dessa história na morte de Tavito.

Tavito, do Som Imaginário, do Clube da Esquina, do rock rural.

Tavito compôs a melodia de Casa no Campo, que Elis gravou, já com César, no disco de 1972.

A  letra, quem escreveu foi Zé Rodrix, que também foi do Som Imaginário e do rock rural.

A barra estava muito pesada, e Casa no Campo propunha uma fuga da realidade.

Não era, certamente, a melhor saída, mas – não importa – a música era bonita demais!

Com essa canção, Tavito e Zé Rodrix ganharam um festival em Juiz de Fora.

O prêmio dava acesso ao FIC, no Rio, e, na passagem de som, Rodrix foi surpreendido por uma voz a lhe fazer um pedido:

Eu quero gravar essa música!

Era Elis Regina.

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Na morte de Tavito, a gente acabou reouvindo Casa no Campo na televisão.

É o legado dele à MPB.

A letra evoca a versão brasileira do sonho hippie ali em 1971, 1972, 1973.

Na época, o projeto da casa no campo podia ser uma metáfora da esperança.

Hoje, seria um necessário retorno aos nossos interiores.