Bolsonaro quer, mas golpe militar não se comemora

Meu pai me ensinou logo cedo:

Está errado dizer Revolução de 31 de Março.

Esta é a versão oficial, mas não houve revolução coisa nenhuma.

O que houve foi a deposição, por militares, de um presidente civil.

Isto é um golpe militar.

Legitimamente, Jango foi eleito vice em 1960 e assumiu a presidência no ano seguinte, na renúncia de Jânio.

Mas meu pai me ensinou também que era perigoso falar em golpe militar, ditadura, etc.

Só mais tarde faremos isso livremente – ele me disse.

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A ditadura militar brasileira durou longos 21 anos. Da deposição de Jango, em março de 1964, à posse de Sarney, em março de 1985.

Houve prisões, cassações, exílios, tortura, assassinatos, desaparecimentos.

Houve fechamento do Congresso, censura à imprensa e à produção cultural, e perseguição a lideranças civis, estudantes, padres e bispos.

Como costuma haver nas ditaduras que começam com um golpe militar contra um presidente civil.

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No tempo da ditadura, todo ano havia comemoração do 31 de março.

A partir da redemocratização, ficou restrita aos quartéis.

Acabou no governo de Dilma.

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O golpe militar de 31 de março de 1964 fará 55 anos no próximo domingo.

O presidente Jair Bolsonaro mandou que fosse comemorado pelos militares.

Bolsonaro quer contar a história do jeito que ela era oficialmente contada durante a ditadura.

É um ataque à memória nacional e um desrespeito às regras do jogo democrático.

Golpe militar não se comemora.