Jornalistas armados. Nossas armas são outras

Não sou datilógrafo.

Sou dedógrafo.

ASDFG – HJKLÇ

Meu tio Humberto tinha uma escola de datilografia, mas preferi aprender “catando milho”.

A máquina portátil – linda! – chegou lá em casa quando eu tinha 12 anos. Presente do meu avô Onaldo.

Comecei copiando as letras do LP Construção, de Chico Buarque.

Amou daquela vez como se fosse a última.

Ou: Todo dia ela faz tudo sempre igual.

Meus primeiros artigos, escrevi nela.

Adolescente, tentando escrever sobre cinema.

Datilografava (“batia”, no coloquial) o texto e levava para colocar no jornal mural que tínhamos no Colégio Estadual de Jaguaribe.

Também foi nela que fiz os artigos que, um pouco mais tarde, levei para avaliação de Antônio Barreto Neto.

Máquinas de datilografia, usei até meados dos anos 1990. Na redação de A União, na Secom, na TV Cabo Branco. Nos lugares por onde passei como jornalista.

Em 1996, os computadores entraram na minha vida profissional.

O verbo datilografar caiu em desuso.

Foi substituído pelo verbo digitar.

Ainda não tínhamos a Internet. Muito menos as redes sociais. Mas já havia os programas de edição que usávamos para fazer o script do telejornal. O texto ia direto para o teleprompter.

A gente pensa.

Depois transforma em palavras escritas.

Sim. Palavras escritas nas velhas máquinas de datilografia. Ou nos equipamentos que o avanço tecnológico colocou nas mãos do homem.

São “armas” que usei. Ainda uso.

E há os microfones. Aqueles bem miúdos, de lapela. Ou os que os repórteres seguram, junto com a marca da emissora. Ou, ainda, os da bancada das emissoras de rádio.

Máquinas de datilografia.

Computadores.

Microfones.

Palavras escritas.

Palavras faladas.

Nossas “armas”.

Não precisamos de outras!