Esgoto e criações de camarão destroem mangues na Paraíba

Motivo que tem levado pescadores ao desespero é simples: a poluição gerada pelo lançamento de esgotos, doméstico e industrial, e o assoreamento do rio.

Jacqueline Santos
Do Jornal da Paraíba

A degradação dos manguezais do Estado pode ser facilmente observada, “há seis anos, eu chegava a retirar até 50 quilos de camarão em um só lance. Hoje, não passa de meio quilo”. A lamentação é de Jailson Figueiredo. Ele mora no bairro do Baralho, em Bayeux, e tem a pesca como principal fonte de renda. Com muita dificuldade, utiliza a atividade para sustentar a família de cinco pessoas. O rendimento depende das condições do rio. “Tem dia que não consigo nada. Nessa fase, em que a maré não está para peixe, o jeito é pegar a rede de volta e seguir para casa, em busca de encontrar um bico que garanta um trocado para o pão do dia”, diz.

O motivo que tem levado pescadores ao desespero é simples: a poluição gerada pelo lançamento de esgotos, doméstico e industrial, e o assoreamento do rio. Esses são os impactos notados e que causam a degradação dos manguezais existentes no Estado. Existem trechos de mangues que estão totalmente descaracterizados. Um exemplo é uma área do Rio da Comporta que não tem mais nenhum aspecto de mangue.

Toda a lama está coberta por uma generosa camada de areia, trazida pela chuva. “Levei alguns alunos e eles não conseguiram identificar. Acharam inacreditável aquela área fazer parte de um mangue”, atesta o professor da Universidade Federal da Paraíba, Alberto Nishida, doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos-SP.

Há vários anos, o professor se concentra em estudar e dar vida a pesquisas que tratam das condições dos manguezais da Paraíba. Nos levantamentos, tem-se um apanhado dos diversos estuários. O próprio “Guy”, como o professor é conhecido, viajou por todos os trechos e conhece com propriedade as condições de sobrevivência do ecossistema manguezal que inclui as espécies da fauna, da flora e fatores como água e solo.

Em alguns pontos, o cenário é de desolação. O mangue cedeu lugar para enormes viveiros de camarão. A carcinicultura (como se chama a atividade de engorda desses crustáceos, praticada em grandes tanques que servem como criadouros) foi apontada pelo pesquisador como causador de impactos negativos. Para que os empresários se instalassem, a vegetação do mangue teve que ser cortada. Ao invés do verde, as margens foram usadas para construção de canais, e edificação das piscinas.

Leia mais na edição deste domingo do Jornal da Paraíba