André Gomes
Do Jornal da Paraíba
O termo ‘Língua Portuguesa’ escrito com acentuação incorreta, além de erros de concordância e de pontuação. Esses e alguns outros erros, por incrível que pareça, foram encontrados por estudantes da rede pública de ensino nas apostilas distribuídas pela Secretaria Estadual de Educação aos dez mil alunos matriculados no Cursinho Pré-Vestibular, mantido pelo Governo da Paraíba.
Foram entregues aos pré-vestibulandos dois cadernos divididos em dois módulos. O primeiro, com temas de leitura e produção de texto, Literatura, Inglês, Língua Portuguesa e História; o segundo, com Geografia, Matemática, Física, Química e Biologia. O cursinho funciona nos municípios de João Pessoa, Campina Grande, Patos, Guarabira, Cuité, Monteiro, Itaporanga, Catolé do Rocha, Cajazeiras, Sousa, Princesa Isabel e Itabaiana.
O estudante do 3º ano do ensino médio Felipe Pontes resolveu ingressar no cursinho oferecido pelo Estado com o objetivo de se preparar para concorrer a uma das 60 vagas oferecidas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no curso de Jornalismo.
Ao receber o material didático do cursinho, ele notou que existia algo de errado. “Foi a primeira coisa que percebi, porque o erro é gritante. O mais impressionante é que os erros de português já começam pela capa quando traz o termo ‘Língua Portuguesa’ de forma totalmente errada com a palavra ‘língua’ sem acento e ‘portuguesa’ com um acento circunflexo”, disse.
Para o estudante, que revelou ser um bom aluno da disciplina Português, o Estado deveria ter convocado professores mais qualificados para elaborar as apostilas, já que elas deveriam servir de base para os estudantes. “Como a gente pode confiar quando os erros já começam na capa? Muitos sabem que as palavras estão escritas de forma errada, mas outros não e podem pensar que a forma certa é aquela”, afirmou.
A mesma surpresa ao receber a apostila teve a estudante Mariana Santos. Ela disse que a grafia de forma errada chamou a atenção dela e de colegas. “Já fiz o ano passado e não tinha esses erros grosseiros. Isso é um absurdo ainda mais em apostilas distribuídas entre tantos alunos que estão se preparando para o vestibular. O mínimo a ser feito agora é o Estado trocar as apostilas por outras escritas de forma correta”, sugeriu.
Ao longo dos textos, a concordância, em vários momentos, peca. Outro problema que demonstra uma provável falta de revisão é a separação indevida das sílabas das palavras, como ocorre em uma frase com a palavra “explicitada” (expli-citada). A falha aparece várias vezes, também em outras palavras.
A professora de Língua Portuguesa Verônica de Sá Andrade disse que o fato é preocupante ainda mais após a revisão ortográfica ocorrida no país este ano. Segundo ela, por serem apostilas de um cursinho pré-vestibular, muitos alunos podem achar que aquela é a nova grafia da palavra e isso pode prejudicá-los tanto na escola como na própria prova do Processo Seletivo Seriado (PSS).
“Existem aqueles alunos mais atentos e que, com certeza, saberão verificar os erros, mas outros são dispersos e podem achar que depois da modificação ortográfica aquela seja a palavra correta”, disse, afirmando que a situação é preocupante.
Conforme a coordenadora do Ensino Médio do Estado, Tereza Fernandes, os módulos foram elaborados pela mesma equipe de professores de anos anteriores. Ela disse que chegou a ver os cadernos antes da distribuição para os estudantes do Cursinho Pré-Vestibular e não constatou nenhum erro grave. Apesar disso, a coordenadora revelou que algum erro de digitação pode ter passado pela revisão e que vai rever os módulos para constatar os possíveis erros.
“Acredito que não tenha algum erro grave, mas se tiver vamos elaborar uma errata e distribuir com todos os nossos estudantes”, revelou.
