Paraíba desperdiça 80 toneladas de hortifrutis por ano

Na Paraíba, aproximadamente 20 toneladas de hortifrutigranjeiros são jogadas fora, por trimestre, nas sedes da Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas (Empasa).

Débora Ferraz e Camila Alves
Do Jornal da Paraíba

Na Paraíba, aproximadamente 20 toneladas de hortifrutigranjeiros são jogadas fora, por trimestre, nas sedes da Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas (Empasa) de João Pessoa, Campina Grande e Patos, segundo estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural na Paraíba (Emater).

Isso representa 30% das mais de 66t desse tipo de alimento que é recebido na Empasa a cada três meses. Enquanto isso, 613,7 mil paraibanos vivem abaixo da linha da pobreza (renda de até R$ 70 per capita por mês) e dependem da solidariedade de amigos e familiares para ter panelas cheias em casa – conforme dados preliminares do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A família de dona Maria da Penha, 54 anos, moradora da ‘Comunidade do ‘S’, no bairro do Róger, em João Pessoa, faz parte desse percentual. Em uma casa pequena, ela divide o espaço com mais quatro filhos e igual número de netos, totalizando nove pessoas, que sobrevivem com uma renda média de R$ 540 mensais – R$ 60 para cada morador. Resultado: prato cheio é algo que a família não conhece. O almoço, quando tem, é feijão e só. Se faltar, “a gente pede para um, pede para outro e assim vai”, disse dona Maria, ressaltando que “dinheiro é difícil e às vezes boto os meninos para comer nos vizinhos”.

A renda, inferior ao mínimo necessário para conseguir uma alimentação nutritiva para uma família de nove pessoas, vem do emprego de um dos filhos de Maria, que trabalha com reciclagem, ganhando aproximadamente R$ 440 mensais, e do programa Bolsa Família – do governo federal, R$ 102. “Já teve dia que eu dormi com sal na boca de tanta fome. Hoje mesmo, não botei um caroço de feijão no fogo, porque não tem”, contou Maria, quando foi visitada pela reportagem.

O excedente total aproximadamente 80t de hortifrutigranjeiros por ano jogados fora nas sedes da Empasa daria para alimentar famílias como a de dona Maria e muitas outras. Segundo o presidente da Emater, Geovani Costa, as hortaliças lideram o ranking dos alimentos não aproveitados, representando 25% do total descartado. O produto, que se deteriora rápido, gera prejuízos financeiros para todos que participam da cadeia, do agricultor ao consumidor final.

O coordenador da Emater na Paraíba, Guilherme do Nascimento, reforçou que “os supermercadistas e feirantes também têm sua parcela de culpa no desperdício”. Na opinião dele, o desperdício ultrapassa as sedes da Empasa quando o feirante compra os produtos dos atacadistas já em recipientes que, na maioria das vezes, são impróprios e contribuem para um mal aproveitamento do produto. “O feirante já compra o produto em caixas de madeira, material que deforma o alimento. Por causa da aparência, ele é rejeitado pelo consumidor e apodrece nas gôndolas dos estabelecimentos”, apontou.

O feirante José Dilson da Silva, que vende frutas no mercado, também tem suas queixas. Todos os dias, ele diz que joga fora cerca de 10 quilos (kg) da sua mercadoria – mas que é uma perda inevitável. “Não dá para prever quanto vai ser vendido. Tem dia que eu vendo tudo, mas quando isso não acontece a fruta se estraga”. O feirante explica que o produto tem um prazo de 48h no mercado, “depois disso, mesmo que ele não esteja podre, já vai ter perdido o brilho e o valor. O cliente não leva”.

Ainda segundo o feirante, o consumidor também tem sua parcela de culpa no desperdício. “Dos 10kg que eu jogo fora, pelo menos cinco não são vendidos, porque alguns consumidores amassam, rasgam e furam os alimentos para escolher qual vai levar’’, revelou, acrescentando que toma uma série de cuidados na compra do produto, utilizando caixas de papelão e de plástico. Mas, nem assim, consegue evitar as perdas. ‘‘Na verdade, os clientes nem percebem que estão estragando a mercadoria e impedindo que seja comprada depois’’, disse.

Leia matéria completa na edição deste domingo (15) do Jornal da Paraíba