Bala perdida já fez dez vítimas

Pelos menos dez casos de pessoas atingidas por bala perdida foram contabilizados na capital no primeiro semestre deste ano.

O simples ato de brincar nas ruas pode ser uma sentença de morte para crianças de comunidades carentes de João Pessoa. O risco iminente de ser atingido por uma bala perdida decorrente de tiroteio entre facções rivais, tem feito com que muitos pais proíbam os filhos de brincar nas ruas. Pelos menos dez casos de pessoas atingidas por bala perdida foram contabilizados na capital no primeiro semestre deste ano.

A maioria das vítimas de bala perdida na capital foram crianças, atingidas inocentemente enquanto brincavam na frente de suas residências, geralmente localizadas em comunidades carentes da capital. Os casos ocorreram principalmente em virtude de disputas entre traficantes.

Uma das vítimas foi o pequeno Pedro Saldanha, de apenas 10 meses, que dava os primeiros passos sob o olhar atento de sua mãe, Andrea Saldanha, quando foi atingido por uma bala perdida, na frente na casa onde mora, em uma vila, no bairro do Rangel.

O menino foi atingido por um tiro nas costas, que perfurou o baço e o projétil permanece alojado em seu corpo. O estado de saúde de Pedro chegou a ser considerado grave e ele permaneceu internado por duas semanas no Hospital de Emergência e Trauma. De acordo com Andrea Saldanha, mãe da criança, o menino estava na rua quando um grupo disparou vários tiros com o objetivo de assassinar um adolescente.

“Meu filho estava em pé na rua e o grupo passou correndo e atirando. Quando peguei ele no braço, para tentar protegê-lo, um tiro atingiu as costas dele. Eu fiquei desesperada. Sempre ouvi falar em bala perdida, mas nunca imaginei que isso poderia acontecer ao meu filho,” contou Andrea Saldanha.

A pequena viela, que abriga várias famílias e crianças, já foi palco para outros tiroteios, colocando em risco a vida dos moradores.

“Quando o meu filho tinha quatro meses, o carrinho de bebê em que ele estava ficou no meio de um fogo cruzado entre dois grupos rivais. A gente havia acabado de chegar do supermercado e por pouco ele não foi atingido por um tiro”, concluiu Andrea Saldanha.

Recentemente, uma mulher foi baleada nas costas quando ia pegar seu filho na creche, do conjunto Paratibe, em João Pessoa. Natalia Leite de Oliveira Nicolau, de 35 anos, foi ferida em um confronto entre grupos rivais que disputam o domínio do tráfico de drogas na região.

Mais recente
O caso mais recente de criança vítima de bala perdida ocorreu na comunidade Nova República, no bairro do Geisel. Um menino de 10 anos foi ferido por um tiro no joelho após sair de casa em sua bicicleta, para comprar leite em um mercadinho na mesma rua. Ao sair do mercadinho, o garoto foi surpreendido por dois homens que efetuavam vários tiros contra um rapaz. Um dos tiros o atingiu. “Eu pensei que tinham matado o meu filho porque foram muitos tiros”, disse a mãe do menino, Gerlane Costa.

Um morador da comunidade Nova República lamentou que crianças estejam sendo vítimas do intenso confronto entre traficantes. “A gente vê que as crianças estão pagando por essa guerra do tráfico. Elas querem ter liberdade, querem brincar na rua, mas esse direito está sendo usurpado”, disse o morador, que, por medo, preferiu não se identificar.