Câncer de mama traz dúvidas

Mitos surgiram sobre as causas da doença; uso de sutiãs apertados e depilação das axilas ainda levam mulheres aos consultórios médicos.

O câncer de mama é o tipo de neoplasia maligna que mais acomete mulheres em todo o mundo. No Brasil, são esperados para este ano 52.680 novos casos, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A alta incidência assusta e, muitas vezes, a falta de informação é responsável pela criação de mitos em torno das causas da doença. A idade continua sendo o principal fator de risco para o câncer de mama e o exame periódico é a melhor maneira para evitar o agravamento do quadro.

A mastologista Joana Marisa de Barros revela que muitas pacientes chegam ao consultório com dúvidas sobre práticas que podem dar origem a um tumor maligno na mama. “Existem muitas crendices de que o uso do sutiã e desodorante, depilação das axilas e pancadas no seio podem iniciar uma ação tumoral.

Tudo isso não tem fundamento científico e, até que se prove o contrário, não deve ser levado em consideração”, comenta a médica, que é uma das fundadoras na ONG Amigos do Peito e presta assistência a pacientes com diagnóstico de câncer de mama.

Os mitos têm origem na observação de algumas reações do corpo, explica Drª Joana. “O uso de um sutiã inadequado pode gerar inchaço e dor na mama, sobretudo no período pré-menstrual, mas esse desconforto não vai fazer nascer um tumor. Esse tipo de dor é bastante comum, acomete aproximadamente 80% das mulheres”, garante. A médica acrescenta que o sutiã é fundamental para a sustentação dos seios para evitar problemas de postura e seu uso é totalmente aconselhável.

A depilação e os desodorantes têm potencial para provocar reações dérmicas que podem ser confundidas com câncer durante o autoexame. “Algumas mulheres apresentam alergia à química do desodorante ou material depilador e assim podem desenvolver uma inflamação nos folículos pilosos. O organismo reage com irritação na pele e inchaço dos gânglios linfáticos, dando origem às ínguas, que são caroços palpáveis ao toque”, esclarece Joana de Barros.

De acordo com a mastologista, o único mito que de certa forma contribui para o diagnóstico do CA mamário é o que diz respeito às pancadas. “Certa vez, uma paciente veio ao meu consultório após um acidente de carro no qual tinha machucado a mama.

Fizemos os exames e descobrimos um tumor em estágio avançado. Expliquei a ela que o trauma serviu para que ela procurasse assistência médica, mas não foi o causador do câncer”, relata Joana.

As causas do câncer de mama ainda não foram completamente explicadas pela medicina. O envelhecimento é o principal fator de risco e por esse motivo a mamografia deve ser feita anualmente após os 40 anos. Apesar das estatísticas menores, também há registros da neoplasia em mulheres com idade inferior. Por isso, o autoexame deve fazer parte da educação feminina e incentivado desde a adolescência.

Outros fatores de risco estão sendo estudados como, por exemplo, aqueles relacionados à vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, nuliparidade, idade da primeira gestação acima dos 30 anos, anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal); história familiar de câncer da mama e alta densidade do tecido mamário (razão entre o tecido glandular e o tecido adiposo da mama). Além desses, alguns estudos demonstram que a exposição à radiação ionizante, mesmo em baixas doses, também é considerada um fator de risco, particularmente durante a puberdade.