Gemol enterra corpos e famílias não sabem

Sepultamentos ocorreram no período de abril de 2011 a abril de 2012; corpos ficaram na instituição por 21 dias à espera de parentes.

No período de um ano, 74 cadáveres foram enterrados pelos servidores da Gerência de Medicina e Odontologia Legal (Gemol) de João Pessoa, sem que os familiares dos mortos tivessem conhecimento do fato. Os corpos são de vítimas de mortes violentas e alguns estavam até identificados. Para o Ministério Público da Paraíba (MPPB), os procedimentos adotados pelo Gemol precisam ser investigados, porque há indícios de que esteja ocorrendo irregularidade.

Eles ficaram na instituição por 21 dias à espera de parentes que os retirassem do local. Como ninguém apareceu, foram enterrados pelos próprios servidores do Gemol. Mas, antes, foram necropsiados, fotografados e tiveram as impressões digitais e fragmentos de músculos e de amostras de DNA coletados e armazenados em um banco de dados. Os materiais estão guardados e poderão ser consultados, a qualquer momento, por pessoas que estejam procurando parentes desaparecidos. Os sepultamentos ocorreram no período de abril de 2011 a abril de 2012.

Segundo o diretor do Gemol, Fábio de Almeida, os casos de corpos sem reclamação são um problema constante na instituição. Ele explica que o serviço só dispõe de 14 câmaras frigoríficas, com capacidade para abrigar dois corpos em cada uma. Apesar do espaço para comportar até 28 corpos simultaneamente, a demora na identificação e liberação dos cadáveres mantêm as vagas ocupadas por tempo além do necessário e podem causar transtornos diante da chegada de novos cadáveres.

“Em média, atendemos a cinco, seis chamados por dia. Mas há casos em que recebemos 12, 14 corpos por dia. Devido à quantidade de homicídios que está aumentando muito, estamos enfrentando até lotação nas câmeras frigoríficas”, conta.

Se o número de cadáveres exceder a capacidade de vagas nas frigoríficas, uma das medidas que precisará ser adotada pelo Gemol é a contratação de um caminhão frigorífico. No entanto, segundo o diretor, a providência ainda não foi necessária.

“Essa contratação de caminhão frigorífico costuma ocorrer em casos de grandes tragédias, como quedas de aviões, que deixam dezenas de vítimas. Felizmente, isso nunca aconteceu na Paraíba. Mas a demora de identificação atrasa a liberação dos corpos e isso é um grande problema que enfrentamos”, destacou.

O procedimento de sepultamento de corpos sem identificação é chamado de inumação (oposto de exumação). Após serem necropsiados, fotografados e ter impressões digitais e material genético coletados, eles recebem um número e são enterrados em covas rasas. Geralmente, o local escolhido é o Cemitério do Cristo Redentor, mesmo bairro onde funciona o Gemol.

Por ser rotativa, a cova precisa ser desocupada após dois anos, para ser usada por outro corpo que esteja na mesma situação. "Os restos mortais recolhidos das covas são armazenados em local seguro e identificados pelas equipes do Gemol", garante o diretor Fábio de Almeida.