Passeio na praia despertou paixão por proteger tartarugas

Até a década de 80, era proibido construir prédios com mais três pavimentos apenas em João Pessoa, por causa de uma lei municipal.

Foi durante um passeio que a bióloga Rita Mascarenhas encontrou a verdadeira vocação. Ela caminhava na praia, quando encontrou alguns pedaços de madeiras, espalhados pela areia.

Ao questionar o dono de um bar, descobriu que aquilo se tratava de ninhos de tartarugas. “O comerciante me falou que tinha colocado os pedaços de madeira para proteger os ninhos e evitar que ovos de tartarugas fossem pisados”, conta Rita.

“Fiquei impressionada com aquela atitude solitária em preservar a tartaruga. Não havia apoio de órgão público e nem de nada. Naquele momento, decidi ajudar”, lembra.

O caso ocorreu há mais de dez anos, mesmo tempo de existência da ONG Guajiru, que atua principalmente na preservação da tartaruga marinha. Criada em 2002, a entidade pesquisa e monitora os locais usados pelas espécies para o depósito de ovos.

Em dez anos de atuação e com ajuda de 150 voluntários, a ONG já salvou 120 mil tartarugas e devolveu ao mar outras 24 que foram encontradas doentes. “Do momento em que os ovos são depositados na areia até o dia em que as tartarugas nascem, a demora média é de 52 dias e acompanhamos de perto todo esse processo até a tartaruga nascer e seguir em direção ao mar”, explica.

Apesar da aparente tranquilidade, o trabalho da ONG nem sempre é fácil. Em determinadas situações, a entidade precisa recorrer à Justiça para garantir a sobrevivência dos animais.

“Quando sabemos de alguma ação governamental que pode colocar em risco a vida das tartarugas marinhas, procuramos os gestores públicos para tentar resolver a situação através do diálogo, mas nem sempre isso é possível. Então, acionamos o Poder Judiciário”, ressalta.

“É um trabalho árduo, sofrido e cercado por sacrifícios. Mas, quando vemos as tartarugas nascendo e entrando no mar, sentimos uma satisfação tão grande que faz tudo isso valer a pena”, completa.

Luta

Entre as lutas, algumas vitórias. Além da criação da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), os trabalhos em defesa da natureza resultaram na aprovação de leis. Exemplo disso é a legislação que proíbe a construção de prédios com mais de três andares de altura nas praias paraibanas.

Até a década de 80, era proibido construir prédios com mais três pavimentos apenas em João Pessoa, por causa de uma lei municipal. No entanto, os ambientalistas queriam estender a medida para o resto do Estado e fizeram uma mobilização e conseguiram inserir a restrição na Constituição da Paraíba, decretada em 1989.

“Lutamos muito. Passamos um mês comparecendo todos os dias na Assembleia Legislativa, para participar dos debates até que incluímos o dispositivo que proíbe a construção de prédios altos em todo o litoral na Constituição Estadual”, disse.

Apesar das conquistas, as batalhas não cessaram. Atualmente, a luta é contra a criação de camarões exóticos em manguezais. Apesar de lucrativa, a atividade causa sérios danos ambientais, como explica Augusto Almeida.

“Esses camarões são exóticos e importados de outros países. Quando fogem dos criadouros, acabam com as espécies nativas do crustáceo, porque se desenvolvem mais rápido e não têm predadores naturais. Além disso, a construção dos tanques destrói os manguezais, que são berçários da fauna marinha e podem até salinizar os lençóis freáticos”, detalha o ambientalista.