Depressão atinge mais de 130 mil paraibanos, aponta IBGE

Maior parcela de depressivos no Estado está entre as mulheres na faixa etária com mais de 18 anos, que representam quase 74% dos diagnosticados com a doença

Depressão atinge mais de 130 mil paraibanos, aponta IBGE

Maria José Araújo é uma das muitas mulheres paraibanas que sofrem com a doença e estão na estatística do IBGE (foto: Rizemberg Felipe)

Um queimor no peito aliado à falta de ar, ânsia de vômito e uma forte tristeza pareciam ser sintomas de alguma doença física na vida da aposentada Maria José Araújo, mas apontavam para o início de um mal psicológico: a depressão. Na Paraíba, a doença afeta cerca de 133,5 mil pessoas com mais de 18 anos de idade, muitas das quais se afastam totalmente das atividades habituais devido ao problema. Para especialistas, esse alto índice é resultado de uma população conectada e, consequentemente mais distante.

O mapeamento do número de depressivos da Paraíba foi apresentado pela  Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde e divulgada no último dia 10 de dezembro. Conforme os números, a maior parcela de depressivos no Estado está entre as mulheres, que representam quase 74% do total, ou seja, cerca de 98.868 eram mulheres na faixa etária com mais de 18 anos; e por volta de 34.695 eram homens.

De acordo com o estudo, as pessoas diagnosticadas com depressão representam 4,8% da população acima de 18 anos da Paraíba, que era de 2.784.000 pessoas no ano passado.

Ainda de acordo com a pesquisa, 20,6% das pessoas diagnosticadas com depressão possuíam grau intenso ou muito intenso de limitações das atividades habituais devido à depressão.

Nesses casos, os homens eram os mais acometidos, representando cerca de 31% dos diagnosticados, enquanto apenas 16,9% das mulheres com depressão estavam afastadas das suas atividades habituais.

A aposentada Maria José Araújo, de 54 anos, faz parte de ambas as realidades. Ela sempre teve uma vida ativa. Foi vendedora por 32 anos e, mesmo tendo se aposentado, decidiu continuar trabalhando, até que um dia resolveu que estava na hora de parar. Quando o trabalho deixou de ser uma obrigação, ela começou a achar que estava tendo a vida que pediu a Deus, foi quando um dia o seu sono foi interrompido por um forte queimor no peito, ânsia de vômito, falta de ar e uma tristeza profunda. “Eu tive muito medo de morrer”, revela. Ela ainda não sabia, mas esses sintomas já demonstravam que a depressão tinha se instalado.

O mapeamento do número de depressivos da Paraíba foi apresentado pela Pesquisa Ainda de acordo com a pesquisa, 20,6% das pessoas diagnosticadas com depressão Na semana em que passou mal, Maria foi ao hospital seis vezes, mas os médicos não tinham diagnóstico para o que ela acreditava ser alguma doença. A procura pelo tratamento da depressão veio pouco tempo depois, quando aposentada Maria José Araújo, de 54 anos, decidiu ter uma conversa com um pastor da igreja que frequenta.

Ele a orientou a buscar tratamento psicológico. “Foi tudo muito rápido. Assim que o pastor falou comigo eu busquei logo o tratamento e me indicaram ir a uma psiquiatra para que me fossem passados alguns remédios. Tomei antidepressivos e remédios para dormir por seis meses intensos.

Eu ainda não fui liberada dos remédios, mas eu te digo que já estou curada”, comemorou. De acordo com o mapeamento do número de depressivos da Paraíba apresentado pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde e divulgada no último dia 10 de dezembro, 46% das pessoas diagnosticadas com depressão tomavam antidepressivos, assim como Maria.

A cura da aposentada, segundo ela, veio da busca de sentido de viver por causa de sua família e da sua fé. “Jesus me curou”, afirma, relembrando um culto do qual participou e no qual ela diz ter sentido a revelação de Deus concedendo sua cura. Já faz mais de uma semana que ela não toma os antidepressivos e hoje ela garante que a sobrevivência passou a ser uma luta diária em uma vida na qual, constantemente, os motivos de acordar a cada dia tem que ser buscados.

“Às vezes ainda me bate uma tristeza profunda. Por exemplo, nesse Natal a casa estava cheia, mas depois todo mundo foi embora e eu fiquei sozinha de novo, por isso bate a tristeza. É uma luta que eu sei que tenho que travar todo dia, respiro fundo, me deito e passa. Minha vida é maior que essa doença. Ela foi a pior coisa que aconteceu na minha vida e eu sei que se eu continuasse daquele jeito eu ia morrer. Mas eu tenho um Deus mais forte, e uma netinha de dois anos que, junto com toda a minha família, me dão, todos os dias, sentido para viver”, declarou.

Mundo conectado propicia a doença

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As redes sociais e o acesso cada vez mais fácil aos aparelhos tecnológicos diminuíram as distâncias de pessoas que estavam longe fisicamente, mas afastou as pessoas que estavam perto. Para o psicólogo clínico Aluízio Lopes, além de fatores como perda de emprego, aposentadoria, fim de relacionamentos e a morte de algum ente querido, o afastamento das pessoas também é um fator que hoje em dia está implicando em um aumento de pessoas deprimidas.

“As redes sociais hoje são meios de informação, de você informar onde está, com quem está, mas não um meio de relação. As pessoas vivem mais conectadas, mas menos relacionadas. Parece contraditório, mas estamos vivendo em uma sociedade de isolamento tanto por conta desse individualismo quanto por conta da violência, que está mantendo as pessoas mais em casa”, comentou.

Ainda conforme o psicólogo, a indisponibilidade das pessoas se ouvirem e se ajudarem aumenta essa distância e, consequentemente, a propensão de incidência de uma depressão.

“Além desses fatores, temos também aqueles de ordem patológica, como a bipolaridade, frequente na atualidade e o stress, a falta de cuidado consigo mesmo nas dimensões afetivas, que podem levar as pessoas a uma perda de motivação social, uma perda de sentido da existência”, acrescentou.

Aposentadoria

O psicólogo ainda destacou que é preciso que as pessoas se preparem para a aposentadoria para que a depressão não se instale, como no caso da aposentada Maria José. O trabalho, que por muitos anos é o sentido pelo qual as pessoas acordam, não pode ser parado de forma abrupta, pois isso pode representar em uma perda de sentido de viver. Para Lopes, isso é algo que deveria ser trabalhado pela saúde pública.

“Inicialmente vem o cansaço do trabalho e você acha que poderá descansar depois de aposentado. Mas quando esse tempo passa, você sentirá falta do espaço que antes era ocupado pelo trabalho. O ideal era que as pessoas fossem parando aos poucos, sendo preparadas para esse momento, encontrando outras coisas para fazer, mas isso não acontece. O que é uma pena porque a saúde pública é quem acaba pagando essa conta”, ressaltou.

Procura por um psicólogo deve ser imediata
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A partir do momento em que a depressão se instala, a primeira coisa a ser feita é procurar um psicólogo, pois ela pode chegar a níveis irreversíveis. Caso o problema comece a interferir na alimentação e em outros aspectos da vida da pessoa, o ideal é associar a terapia a medicamentos, que ajudarão na superação do problema, alertou o psicólogo Aluízio Lopes.

A cura da doença, por sua vez, dependerá do nível da pessoa de se reconhecer com a doença, de acordo com o especialista. “Se ela se reconhece, gera uma abertura, uma vontade de mudar e entrar em contato com os fatores emocionais que desencadearam a depressão. Quanto mais consciente ela estiver do estágio da doença, quanto mais disposta, mais rápido será o tratamento”, assegurou.

O psicólogo clínico Aluízio Lopes ainda destacou pontos que podem ajudar as pessoas a não entrarem em um quadro de depressão. “É muito importante que as pessoas participem de grupos sociais concretos: religiosos, de cultura, arte, cultura, pedal. Um ou mais grupos de convivência. Que elas tenham mais tempo para o lazer e para a cultura. Ver um bom filme, peças, shows, e, principalmente, ter amigos com quem você possa contar. Se sentir útil, importante, valorizado. Esse é o grande antídoto para a depressão”, completou.